sábado, 28 de setembro de 2019

Carolina e Maria de Jesus




Para voltar a escrever, eu tinha que ter um bom motivo e nesse mundo tão complicado, me parecia difícil achar esta faísca que me fizesse voltar a ser a mesma Traça, cheia de alegria e histórias para contar. Todavia, este dia chegou uma tenho um motivo muito especial para compartilhar com vocês, este motivo é uma história de duas mulheres que de certa forma, estão unidas na minha vida, e engraçado ou não, ambas possuem os mesmos nomes, a primeira é Carolina Maria de Jesus, a escritora e Maria de Jesus Ribeiro da Silva, minha avó.
Ao contrário de mim, Traça dos Livros, minha vó não lê muito, é um hobby muito quieto para ela, minha vó é muito mais aquela pessoa que não para, que faz muitas coisas em casa e sempre com o rádio ligado para se divertir, um tipo de mulher que um dia está na cozinha e no outro está em Paris. Minha vó teve uma vida difícil e cheia de histórias de superação (que na verdade dariam um bom livro), e os livros não estiveram neste plano principal, mas, com muito orgulho, minha vó fala com todas as letras que o livro que ela conseguiu completar uma leitura foi “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus.
Minha vó ganhou este livro na década de 1970, minha vó conhecia a história e ficou interessada, um dia conversando com um amigo de meu avô sobre o livro, o mesmo disse ter o livro e lhe deu de presente seu exemplar e foi então que a história das duas se uniram para sempre. Que maravilha ter orgulho de ler um livro desses!
Porém, onde eu entro nessa história? Bem, quando eu passei no curso de letras, na Universidade Federal de São Carlos, acabei descobrindo que a mesma autora era homenageada pelo Centro Acadêmico da instituição e comentando com a minha avó sobre isso, foi quando ela me deu seu livro e a história das duas chegaram até mim. Aqui está comigo, um dos primeiros pertences que levei para minha nova casa, guardado como tesouro de alto valor, um exemplar da primeira edição da década de 1960, ano da primeira publicação do “Quarto de Despejo”.
Hoje, estou lendo o livro para uma matéria da graduação, mas o exemplar ainda permanece comigo, guardado com todo o cuidado existente neste mundo. Não é apenas um livro maravilhoso, mas é ainda mais maravilhoso esse sentimento de ter uma história por trás de outra história em um livro que tem muito mais anos do que eu tenho de vida, ele pode estar um pouco deteriorado pelo tempo, por isso não gosto muito de manuseá-lo toda hora e ainda não tenho coragem de levar para alguém restaurar, mas as histórias estão ali, estão em mim, em minha vó, em todas as pessoas que perpetuam o nome de Carolina Maria de Jesus ao mundo, pois precisamos que cada vez mais esses livros cheguem nas pessoas e as toquem com sua delicadeza.
     E são nesses momentos em que penso.... Que dádiva poder ter um livro consigo, com ele, a história nunca acaba, ela se transforma.
Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Análise: A Imortalidade



“Penso, logo existo é uma afirmação de um intelectual que subestima as dores de dente. Sinto, logo existo é uma verdade de alcance muito mais amplo e que concerne a todo ser vivo. Meu eu, não se distingue essencialmente do seu eu pelo pensamento. ” (Pág.112)
E é com essa linda citação que começo mais uma análise da minha última leitura dos meus últimos dias de férias, mais uma vez, me aventurei na escrita de Milan Kundera e escolhi “A Imortalidade” para contemplar. 

Essa obra tem uma premissa maravilhosa, ela é complexa, mas muito bem trabalhada, porém um pouco perdida no caminho, mas ela consegue encerrar bem, devido tal complexidade era de se esperar que alguma ponta se soltasse, mas o livro é muito intrigante. É mais do que óbvio que certos autores possuem uma fórmula ou padrão ao escrever seus livros, acho que todo mundo está careca de saber que isso existe e Milan Kundera pode explorar vários temas, mas uma essência vai sempre aparecer e vou explicar bem qual essência é essa.

Para explicar tudo isso, preciso começar – redundantemente – pelo começo, temos nosso autor como narrador de todo o enredo, observando uma mulher nadando no clube, a partir de então ele cria uma história toda sobre sua vida e a partir desta primeira premissa começamos a história, Kundera lhe dá um nome, sentimentos, uma vida, uma família e uma história envolvente e a partir disso sua fórmula aparece. As histórias cruzadas. Se você já leu “A insustentável leveza do ser” ou qualquer outro livro do Kundera você perceberá que sempre haverá histórias se cruzando na história e esse livro não deixou isso para trás.

Paralelamente a esta história temos a questão da imortalidade sendo colocada em reflexão, e não dá para ligar imortalidade sem a palavra morte, mas Kundera atrela essas duas questões de uma forma diferente, ao invés da imortalidade ser definida pela não morte, a imortalidade para Kundera só existe após a morte, quando a pessoa mesmo após sua morte continua sendo lembrada com o mesmo prestigio ou mais quando vivo. Ele usa a figura de Goethe como exemplo disso, tem um momento muito interessante no qual no panteão da imortalidade, Goethe e Hemingway dialogam sobre esse tema e achei particularmente genial a ideia e muito bem construída e de um jeito muito peculiar, esse cenário se cruza com as outras histórias.

Se estamos falando de histórias de Milan Kundera era óbvio que iria ter aquelas paixões complicadas, controversas, aquele amor muito reflexivo e até mesmo destrutivo entre os personagens. Somos levados a inúmeros momentos de fluxo de consciência (coisa que eu amo!) Acerca de todos os temas possíveis e de momentos possíveis, acho que um dos momentos que mais gostei de ler na história é um trecho no qual o personagem Paul está almoçando com Brigite, sua filha, sobre cultura e Paul tira a conclusão frustrante que a cultura de sua filha é totalmente limitada ao senso comum ou as modas ditadas na vida real, o mesmo começa a recordar de sua juventude e de sua grande adoração por Rimbaud e ao mesmo tempo se vê frustrado com o repertório de sua filha, alegando não ter sido um bom pai para deixar tudo aquilo conhecer, é bem interessante a forma como tudo é construído.

Claro, devemos dizer que existe falhas, para mim, as duas últimas partes são completamente avulsas a história, a sexta parte é algo muito fora de mão e complicado de entender pois nos dá uma nova história paralela que se inicia e termina na mesma parte, enquanto a sétima e última parte é uma tentativa de fechar algumas pontas no qual não precisavam ser retomadas, se tudo tivesse acabado na quinta parte acho que o choque seria muito melhor e daria mais impacto ao livro, mas isso é minha humilde opinião que não vale tanto assim, ou nem valha nada, mas achei que as últimas partes deixaram a desejar.

Não posso deixar de comentar sobre um trecho no qual o próprio Kundera aparece na história junto de alguns personagens e comenta sobre estar escrevendo “A insustentável leveza do ser”, suspeito que a tal fórmula do Kundera cria paralelos entre suas histórias, mas para isso ser melhor compreendido e comprovado eu precisaria me aprofundar mais nas suas obras e acho que isso pode ser deixado para um futuro mais longe, mas fica minha indicação de uma história intrigante.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Análise: Oryx e Crake

Dessa vez não teve uma foto bonitinha do Instagram, pois eu li online kkkk


Nossa, estava entusiasmada para vir comentar com vocês sobre minha nova leitura e dessa vez escolhi – mais uma – distopia. Não irei me estender sobre a definição do que se trata uma distopia, pois acredito que já devem saber do que se trata e já havia dito em leituras anteriores sobre isso, e pelo o que me parece, a distopia e o nome de Margaret Atwood estão bem atrelados ultimamente. Minha opinião sobre a autora é complexa, admiro muito seu trabalho e sua personalidade, mas não acho que seja algo tão fenomenal assim e vejo ainda muito apelo comercial e uma literatura mais massificada, teci críticas duras ao “Conto da Aia”, mas decidi dar uma nova chance para essa nova distopia que me aparecia na leitura de “Oryx e Crake”, já posso dizer que o saldo foi um pouco mais positivo.

Desta vez temos uma distopia bem diferente do “Conto da Aia”, dessa vez ela se vem através da biotecnologia, com ares de “Admirável Mundo Novo”, a história nos apresenta o Homens das Neves, vulgo Jimmy, um dos últimos seres humanos vivo em um mundo pós-apocalíptico no qual os genes dos seres humanos e dos animais se tornaram híbridos e criados em laboratórios, a terra foi assolada por catástrofes e doenças e inúmeros animais mutantes surgiram com o avanço de tecnologias e Jimmy tenta sobreviver àquele ambiente hostil com os recursos possíveis e com suas memórias do passado na intenção de entender tudo que houve para o resultado final ser isso.

A história não é linear, então temos capítulos e mais capítulos com flashbacks e digressões do protagonista enquanto entendemos o que realmente aconteceu nesse mundo distópico, na verdade tudo é muito bem remendado ao ponto de no final conseguirmos compreender o que houve e o papel de Jimmy em toda a história, vemos que ele não passa de um instrumento em meio ao caos e como um observador de todos os atos, temos um panorama completo e reflexões sobre tudo aquilo, posso dizer que nesse livro, Margaret Atwood, além de saber atar os fatos com muito êxito, nos trouxe aspectos muito mais aprimorados acerca da distopia, mas também em questões inerentes ao ser humano, como a esperança, a dor, o conformismo (guardem bem esta palavra), a perda, dentre outros.

Mas agora vem a pergunta, quem é Oryx e quem é Crake? Eles são peças principais desta trama o que faz Jimmy ser um instrumento de reflexão ainda mais poderoso. Primeiro falaremos de Oryx, o grande amor de Jimmy, a figura idealizada da mulher cujo traz a paz e tranquilidade ao coração do protagonista, mas também é um agente do caos muito importante, uma vez que o clímax só poderia acontecer com a presença dela. Oryx carrega em si um passado completamente sombrio e abusivo, porém a mesma nunca se coloca em um papel de vítima, pelo contrário, ela traz uma carga de conformismo enorme no qual Jimmy não consegue compreender e este mesmo conformismo dela em qualquer tipo de condição se tornou sua própria ruína e a ruína dos outros.

Agora falaremos de Crake, o amigo de infância de Jimmy, aquele sempre visto como o mais inteligente ou o melhor ou com menos problemas que Jimmy, é colocado nele certo posto de admiração pelo protagonista e ele é realmente, literalmente o responsável pelo caos e tem total consciência disso, ele realmente quer isso, movido pela ganância ou um bem maior no qual foi possuído ao longo dos anos. Ambos os personagens são fascinantes e mais ainda, são muito opostos a Jimmy, enquanto Oryx e Crake carregam em si um conformismo extremo sobre a condição – podemos dizer - desumana da humanidade, Jimmy ainda carregava esperanças e questionamentos que no final acabam caindo por terra uma vez que ele se vê sem saída nesse tal mundo, podemos dizer que nesse caso, o antagonismo “venceu”.

Finalizando com minha opinião pessoal (mesmo sabendo que ela não vale tanta coisa), o livro é muito bom e dá gosto de ler, chega a ser instigante a leitura além de muito bem estruturada, todavia, não vou dizer que é perfeita, possui falhas e possui certo apelo comercial para a venda massiva, porém vale a pena a leitura, possui reflexões e ideias bem inteligentes e que me fez em poucos dias encerrar a leitura com certa satisfação. A minha segunda chance a Margaret Atwood rendeu um bom fruto.

Com carinho, malu, a Traça dos Livros.

sábado, 20 de julho de 2019

Se reencontrar com Mulheres que correm com os lobos



Estou cansada de falar em como meu semestre foi exaustivo, mas em meio dele encontrei esse tesouro que já falarei logo, é uma leitura indispensável para qualquer mulher, não importa a idade, é necessário ler este livro para poder se reconhecer como uma figura feminina.

Clarissa Pinkola Estés, neste livro, se denomina como uma contadora de histórias e em cada capítulo vai trazendo conhecimentos passados e culturais advindos de lendas e histórias que exploram o arquétipo da mulher selvagem. Cada capítulo um novo tema envolvendo o ser feminino é tratado e refletido, unido a lendas de inúmeras culturas que legitimam ainda mais o arquétipo feminino como um ser livre e selvagem.

Este livro é algo que ao mesmo tempo é necessário de ler, não deve ser lido com pressa ou rapidamente, aproveite cada página, cada palavra, tire reflexão de tudo, pois é um livro muito profundo e que mexe conosco, nos leva a pensar em como somos no mundo e como o mundo quer que sejamos. A autora fala muito sobre um saber ancestral, um espírito nato a ser despertado e ele realmente desperta isso em nós, algo ancestral e único floresce em nós, por isso é tão importante ler.

Enquanto eu lia, descobri que este é um dos livros que a Emma Watson recomenda em sua campanha sobre leitura feminista e me senti muito familiarizada após isso, depois soube que minha mãe e suas amigas também leram e recomendei a várias amigas também, mais para frente li um artigo cujo dizia que este livro é “para mães lerem e passarem para as filhas e assim por diante”, algo que legitima e fortalece ainda mais a herança cultural e ancestral da persona feminina.

Eu falarei brevemente, pois deixarei a leitura para vocês, pois cada um terá uma parte favorita e algo que lhe tocará mais, no meu caso, foi o contato da mulher com a terra que me chamou mais a atenção e me comoveu mais, nós mulheres temos uma relação com a terra e a natureza muito pessoal nossa e este tema me comoveu por estar longe d casa, parece que ao ler o lar ficou perto outra vez e me senti conectada a natureza novamente, nessas férias foi um dos planos que eu tinha em mente graças ao livro, estar mais na natureza.

Portanto, leiam mulheres! Encontrem a parte que mais a tocará, viva cada experiência e não deixe de mostrar a outras mulheres esta grande maravilha, pois merece cada palavra e cada página! Deixarei uma frase do livro para dar um gostinho especial a vocês:

“A loba, a velha, aquela que sabe está dentro de nós. Floresce na mais profunda psique da alma das mulheres, a antiga e vital Mulher Selvagem. Ela descreve seu lar como um lugar no tempo em que o espírito das mulheres e o espírito dos lobos entram em contato. É o ponto em que o Eu e o Você se beijam, o lugar em que as mulheres correm com os lobos (…)”

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

domingo, 14 de julho de 2019

As leituras do semestre universitário




Parecia ser infinito, mas acabou e enfim posso me declarar de férias e com 50% da minha graduação concluída, na verdade ainda não dá para acreditar muito bem nisso, pois parece que foi ontem que entrei na universidade. Todavia, posso garantir que estes foram um dos semestres mais complicados que já tive e que foi um dos fatores de minha ausência da Traça, mas isso não quer dizer que não houve leituras, teve sim! Mas leituras universitárias que venho compartilhar com vocês e tecer rápidos comentários sobre... vamos lá!

A primeira matéria que vou comentar é a matéria de Literatura Portuguesa que teve três leituras:

  • A queda dum anjo (Camilo Castelo Branco)

Posso dizer com tranquilidade que não me agradou muito ler este livro. É uma narrativa cansativa, uma história que não prende e uma leitura que te cansa. Tive o sentimento que quanto mais eu lia, mais nada acontecia, foi difícil. Porém a aula sobre o livro foi muito mais proveitosa!

  • Alves e cia (Eça de Queiroz)

Assumo que eu tinha certo receio em ler Eça de Queiroz pelo alto teor descritivo que ele apresenta e achava que teria muita dificuldade, assim como tive com o livro do Camilo Castelo Branco. Porém eu fui enganada, a leitora foi bem proveitosa e eu gostei muito! Foi uma ótima leitura, o tema era normal, mas a forma como o enredo foi tratado chegava a ter um tom humorístico com uma crítica por trás, foi muito gostoso ler, eu posso dizer que me diverti com o romance.

  • O marido virgem (Alfredo Gallis)

Parece que foi um crescente, comecei não gostando tanto da primeira leitura, a segunda gostei mais e a terceira eu adorei! Sim! Este romance é ótimo e vou recomendar sempre, é divertido, é proveitoso e além do mais dá gosto de ler algo assim. Eu adorei, vários momentos me vi rindo ou concordando com os fatos, o autor possui uma ironia mordaz e uma linguagem envolvente. Nossa, eu recomendo muito lerem este romance!

Agora mudamos um pouco o foco e vamos de Literatura brasileira no período moderno, nessa matéria houve maior carga de litura, mas foi tão bom quanto!

  • Paulicéia desvairada (Mário de Andrade)

A figura do Mário de Andrade é muito emblemática e este livro de poemas é a concretização disso, conseguimos perceber toda a sua proposta literária nos versos completamente vanguardistas. É uma obra bem interessante.

  • Macunaíma (Mário de Andrade)

Difícil falar desse livro, eu reconheço sua importância, mas meu Deus! Que porre! Nossa, foi complicado ler este livro, muitos momentos eu não entendia e retornava e não entendia mais ainda. É uma miscelânea mesmo e completamente conceitual, as vezes foi difícil para mim compreender tal conceito, eu sou humana. Não tiro o crédito pois sei que existe uma grande importância na obra, mas acho que vai demorar para eu ler outra vez.

  • Contos novos (Mário de Andrade)

De todas as obras do Mário de Andrade, sem dúvidas essa foi a que mais gostei! São contos que vou levar pela minha vida sempre, especialmente o conto “O peru de natal”, tantas reflexões e pensamentos foram despertados enquanto eu lia o livro. Vale muito a pena a leitura, é algo belo, simples e sublime, cada palavra possui significados tão incríveis que juntos é indescritível a experiência.

  • Pau-Brasil (Oswald de Andrade)

Outra coletânea de poemas muito vanguardistas e muito interessantes, este livro é aquela leitura tranquila, boa e que te entretém de uma forma única. Fora isso, temos que levar em consideração todo o contexto e proposta por trás dela que é incrível, você consegue perceber a materialização da teoria, isso é muito interessante.

  • Memórias sentimentais de João Miramar (Oswald de Andrade)

Esse livro é interessante, se você procura ler algo um pouco experimental eu o recomendo, é uma leitura fluida e bonita, mesmo tão fragmentada você consegue entender o enredo e se envolver na linguagem. Já que falamos de obras conceituais, este conceito me agradou mais e eu consegui entende-lo, posso dizer.

  • O rei da vela (Oswald de Andrade)

Mordaz, forte e ao mesmo tempo tão atual que chegava a me chocar! Todas aquelas críticas tão bem colocadas e aquele tom feroz acerca de um tema como aquele faz com que você reflita muito. Aliás, é triste ver que nada mudou desde então.

  • Libertinagem (Manuel Bandeira)

Sabe aqueles versos e poemas que sempre cruzam seu caminho de certa forma e sempre se encaixam com você? Isso que acontece comigo e com Manuel Bandeira, as vezes brinco que ele escreveu alguns poemas para mim pois conseguem captar minha essência e “Libertinagem” é a reunião desses poemas, é claro, posso dizer que Manuel Bandeira é um dos meus poetas favoritos se não for o meu favorito! (Talvez ele e Walt Whitman). Menções honrosas para estes poemas cujo indico fortemente: Evocação de Recife e Poética (um dos meus poemas favoritos)

  • O sentimento do mundo (Carlos Drummond de Andrade)

O que falar de Carlos Drummond de Andrade? Só o nome vale por tudo e “O sentimento do mundo” é a prova viva disso, cada poema é tão belo, tão pessoal, tão cativante. Acho que este livro deve ser lido por cada ser humano para seu bem próprio, pois é maravilhoso, não tenho muito o que dizer, acho que o nome de Drummond fala por si.

  • A rosa do povo (Carlos Drummond de Andrade)

Enquanto “O sentimento do mundo” é algo muito mais vasto, “A rosa do povo” é muito mais tocante, essa é a intenção, de tocar seu pessoal, fazer refletir e tentar nos fazer pessoas melhores. É algo nobre demais.

  • Vidas secas (Graciliano Ramos)

O último, mas não o menor, pelo contrário, essa história está na nossa cultura muito enraizada e eu tenho certeza que muitos de vocês mesmo sem ler o livro sabem um pouco da história ou pelo menos conhece a Baleia, figura tão característica. É uma história tão bela, mas tão sofrida, nossa... vou usar as palavras de minha professora, o título faz a vez de toda a essência da história, é seco, é sofrido e te faz refletir demais.

Um semestre de altos e baixos, mas concluído e que venham mais leituras dentro e fora do contexto universitário.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.


domingo, 30 de junho de 2019

Análise: A Lentidão



Eu não sei como começar, pois me senti muito envergonhada por ter sumido por todo esse tempo, a resposta deste intervalo é simples: faculdade! Esse semestre muitas coisas aconteceram, muitos ciclos foram fechados, muitas leituras foram obrigatórias e a Traça - infelizmente - foi deixada de lado, mas nunca esquecida! Em meio a rotina caótica ainda planejava escrever e hoje sinto um alívio por poder compartilhar algumas palavras com todos vocês.

Muito do meu tempo foi tomado, mas a alma de uma Traça não se deixar levar tão facilmente e consegui ler um romance diferente das minhas leituras obrigatórias e posso dizer que foi uma válvula de escape muito precisa naquele momento, não via a hora de compartilhar com vocês, e em meio da minha lentidão venho compartilhar com todos a minha experiência com "A Lentidão" de Milan Kundera, irônico não?

Eu já havia lido livros do Milan Kundera anteriormente, vocês sabem que "A insustentável leveza do ser" é o livro da minha vida e nunca me canso de falar sobre isso, minha experiência com Kundera sempre foi bem satisfatória e gosto bastante do estilo em que ele se debruça ao escrever, os capítulos breves, as questões inerentes ao ser humano, os relacionamentos não tão convencionais e os encontros e desencontros que seus personagens realizam ao decorrer da história. "A Lentidão" nos proporciona tudo isso em um tamanho reduzido em páginas, mas em grandiosidade em conteúdo.

Primeiramente, temos o próprio autor narrando uma viagem com sua esposa até um castelo na França que supostamente foi o castelo de Madame de Tourvel, a personagem conhecida do romance de Chordelos de Laclos, "As Relações Perigosas" (vocês sabem do sentimento bittersweet que possuo com esta história) , então já temos uma intertextualidade muito enriquecida logo no começo, fazendo com que o espaço seja um principal elo em todas as histórias que vão passar por lá. A partir desta intertextualidade, o autor começa a refletir sobre como o tempo era muito menos caótico nas épocas de Madame de Tourvel naquele castelo do que são hoje. Acredito que esta é a principal reflexão da história, a reflexão da lentidão do tempo ao decorrer das épocas e em como nosso cotidiano é tão acelerado devido a modernidade que perdemos a essência de admirar e perceber o mundo com mais atenção e ternura, as relações eram diferentes e o tempo era muito mais bem aproveitado. 

É necessário falar que outras histórias se cruzam naquele castelo, outros personagens nos são apresentados e com eles suas questões pessoais, mas a velocidade ainda é uma reflexão de todos durante sua estádia, logo, vemos que o autor consegue colocar uma temática muito bem estruturada e que vemos sua concretização a partir de uma reflexão chamada pelo autor como "uma equação bem conhecida `do manual da matemática existencial" 

"O grau de lentidão é diretamente proporcional à intensidade da memória e o grau de velocidade é diretamente proporcional à intensidade do esquecimento." 

O que mais me cativou desse livro foi realmente sta reflexão que circula a história, como a velocidade nos faz aproveitar cada vez menos nosso tempo e por consequência nossa própria vida e nos convida a refletir sobre o que estamos fazendo a respeito disso. A indicação de um amigo caiu como uma luva para mim que estava passando por um momento onde não encontrava tempo para nada, as vezes é muito melhor amar a lentidão do que esta modernidade que nos priva de admirar a beleza que a vida é. Obrigada Milan Kundera por me proporcionar isto, está aí um autor contemporâneo que tenho uma grande afeição. 

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros. 



quarta-feira, 15 de maio de 2019

Eu quero Traça(r) meu futuro com liberdade e educaçao!



Não vim falar de livros, mas vim falar de educação. Deixo meu posto para tomar meu posto como estudante de licenciatura em letras. É preciso falar, não posso me calar mais, na verdade nenhum de nós podemos nos calar mais, pois ainda temos voz e precisamos lutar para continuar tendo, os tempos estão difíceis demais.

Nas circunstancias que meu país está, com um presidente nitidamente despreparado e com um ministro da educação que é a favor do desmonte da educação é impossível não falar. Me sinto angustiada, me sinto triste e pouco venho lendo, uma vez que percebo a quão privilegiada eu sou! Sou estudante de uma universidade pública, a mesma no qual muitos estudantes arduamente estudam para conseguir uma vaga e eu consegui após tanta luta, para chegar um bando de loucos e dizer o que nós fazemos por aqui é balbúrdia, que somos “idiotas úteis” e “massa de manobra”, que temos que aceitar o corte de 30% da verba com o risco de termos nossas atividades paradas devido à falta de custos. É revoltante!

Tem horas que penso em pegar algo e ler pela diversão que sempre fiz, mas quando começo a ler começo a pensar, existe ainda tantas pessoas que não possuem a mesma oportunidade do que eu, que tem acesso a literatura, que aos poucos criou senso crítico e possui opinião própria a decidir em qual o melhor lado para se posicionar e ter embasamento para defender seu ponto de vista. A cultura ainda no Brasil é muito excludente e é nítido que existe um projeto para deixa-la ainda mais distante do povo. Não podemos deixar.

Faço pesquisa na área de ensino de língua estrangeira e vi nos olhos de meus alunos o entusiasmo ao trazer um material completamente novo e fora do convencional no qual eles estão acostumados, a nossa educação ainda é muito falha e em todas as aulas temos noção do quão problemático isso é. Por isso procurei estudar isso, por isso sempre tive em minha mente trazer ao meus alunos novos incentivos tanto na literatura quanto em qualquer outro assunto, esta missão parece que se tornou cada vez mais importante nessas circunstancias.

No momento que escolhi ser professora, assumi o compromisso de sempre trazer conhecimento para meus alunos, nunca a palavra doutrinação pela minha mente, na verdade ela apenas passa na mente daqueles que realmente querem doutrinar, na minha mente sempre veio a palavra “diversidade”, oferecer os melhores campos férteis de conhecimento, instigar a discussão e ampliar os horizontes para que assim possam caminhar com suas próprias opiniões.

Eu quero ser Traça, estar junto dos livros, da educação, da cultura, da diversidade e da liberdade. Eu quero ser traço de um desenvolvimento onde ocorra igualdade, que os direitos de todos possam ser respeitados, que o amor se sobreponha ao ódio e a educação seja vista como prioridade e não como um perigo. Eu quero traçar um futuro com êxito, graduar—me com uma profissão honrada não só por mim, mas por todos e acima de tudo, ajudar a traçar novos futuros, novos caminhos onde turbulências como essa nunca mais se repitam!

Com carinho e muita luta, Malu, a Traça dos Livros.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Análise: Retrato do artista quando jovem




“Quero ter nos braços a graça que ainda não apareceu no mundo" (Pág. 268)

Eu sei, fazia um tempo que eu não aparecia por aqui, mas tenho explicações. Desta vez a faculdade não tomou meu tempo e minhas leituras, nesse mês um sonho meu se concretizou, fiz uma breve viagem cujo ainda renderá algumas palavras aqui no blog a acabei ficando para trás em relação as leituras do blog, mas compensarei logo, logo.

Voltei para o Brasil e já decidi me aventurar em um novo mundo, o mundo da literatura irlandesa e – acredito eu – um dos maiores nomes de seu país. James Joyce. Meu primeiro contato com o autor foi na faculdade, na aula de Teoria do Texto Poético, meu professor citou seu nome e lembro claramente dele dizer estas palavras “um leitor de verdade um dia precisará ler um James Joyce, leiam sem medo. ”, eis que aqui estou com minha primeira leitura deste autor, o autor que deu voz a Irlanda.

“Retrato do artista quando jovem” poderia ser categorizado como um “romance de formação”, aquela obra cujo vemos o crescimento do seu protagonista ao lermos cada página e sua evolução pessoal e nesse caso, é nitidamente perceptível os traços de autobiografia do autor acerca dos temas que ele aborda com um êxito sem igual. James Joyce queria dar voz a Irlanda na literatura, claramente vemos que ele conseguiu.

Nesta trama, somos apresentados a Stephen Dedalus (clara referência ao herói da mitologia grega, Dédalo) um garoto irlandês que parte para um colégio interno católico, temos então a construção moral de nosso protagonista sendo moldada a partir dos ensinamentos religiosos ali impostos pela instituição, todavia, quanto mais o tempo passava, a moral e a fé de Stephen vai ser colocada cada vez mais a prova ou em questionamento, questionamentos estes que o mesmo lhe faz a todo tempo.

Stephen terá inúmeras experiências ao decorrer da história, sendo elas sagradas ou profanas e que serão essenciais para sua evolução como homem. Vemos sua relação com a família sendo fortificada, sua perda de fé, seu arrependimento e até mesmo seu temor quanto a religião muito bem retratada. É importante frisar em uma parte do texto no qual Stephen pergunta ao sacerdote sobre o inferno e temos uma descrição de várias páginas sobre o quão terrível e temoroso o inferno é, mostrando claramente como a religião tinha um dom de persuasão e controle, ainda mais naquele país católico como a Irlanda. Temos também discussões políticas a flor da pele sendo ocorrida pelos olhos do protagonista e também os ensinamentos do protestantismo sendo apresentados a ele. Vemos a intenção de James Joyce de nos dar um amplo panorama não apenas do espaço da narrativa, mas também do espaço no qual a Irlanda se inseria.

É necessário ressaltar que existe uma evolução do artista na voz de Stephen, desde o começo temos os seus versos expostos para nós leitores, enquanto lemos sobre sua trajetória. Em Stephen, existe uma vontade ou talvez um grande desejo de eternizar a Irlanda através da literatura, acredito também que este era um desejo de Joyce também, então nosso desfecho mostra que o caminho no qual Stephen optou por seguir seria glorioso no âmbito das artes, uma promessa para a Irlanda, assim como James Joyce. Joyce traz um novo trabalho, procura nos apresentar um novo estilo, trazendo fluxos de consciência constantes e altamente descritivos (lembremos que Virginia Woolf estava fazendo o mesmo estilo, quase que na mesma época lá na Inglaterra, inclusive sua editora recusou a publicar Ulysses) James Joyce nos mostra sua libertação e autonomia e mais para frente lhe renderia grandes êxitos, esta obra é apenas o começo de uma grande trajetória mesmo.

Foi uma experiência incrível e que me instigou muito a querer ler mais sobre este autor, na verdade devo confessar que temia muito seu tipo de literatura, mas após esta leitura, fiquei cada vez mais instigada a ler sua obra, quem sabe em breve teremos uma análise de Ulysses? Seria incrível! Por ora, é isto e devo dizer... uau! Eu estava sentindo falta de escrever por aqui!

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Análise: Virginia nos leva Ao Farol




É difícil começar sempre uma análise e quanto mais eu leio os romances de Virginia Woolf, este espírito de captar a essência se torna mais importante e chega a me dar certa ansiedade sobre como começar, uma vez que sua obra é esplendida em todos os sentidos e desta vez somos levados a um passeio ao farol, um fato tão simples primeiramente e que se transforma em uma grande jornada sobre o sentido da vida.

É nítido que estamos lidando com uma literatura suprema, assim como estamos lidando com uma das obras mais bem trabalhadas da autora. Publicado em 1927, “Ao Farol” traz muitas características semelhantes ao seu outro romance, publicado anteriormente, “Mrs. Dalloway”, todavia, temos um certo aprimoramento narrativo acontecendo nesta história e, acredito eu, o ápice deste estilo seria publicado anos depois com “As Ondas” – meu romance favorito dela.

Temos um enredo considerado simples nesta história, é apresentado ao leitor a família Ramsay, uma família inglesa abastada que, junto de amigos vai passar suas férias na Ilha de Skye, a Escócia, conhecida pelo seu belo Farol. Entretanto, a simplicidade do enredo é equilibrada perto da grandeza artística e estrutural que esta obra possui, uma vez que temos um romance multifacetado, que traz elementos experimentais muito bem executados, estabelecendo assim, um estilo completamente consistente e muito bem trabalhado, cujo dará a Virginia Woolf um grande renome.

A presente família, em clima de férias, durante uma noite questiona a si mesmos sobre a vida que estão vivendo enquanto esperam o dia clarear para a possibilidade de passearem até o farol. O romance é dividido em três partes e não possui uma linearidade concreta, ou seja, temos idas e vindas sobre os acontecimentos, contados por pontos de vistas distintos dos personagens, trazendo uma elaboração artística muito bem-feita. Não me atentarei muito aos personagens especificamente, mas é muito importante frisar que todos eles nos são apresentados a partir do ponto de vista de outros personagens, ou seja, temos uma narração a partir da visão do outro, o que é muito interessante. Além do mais, não tem como deixar de fora o fato que os personagens do Sr. E a Sra. Ramsay possuem características muito bem fixas e que se referem aos pais da própria autora, que muitas vezes caracterizou este romance como uma “elegia biográfica”. Temos uma mãe compreensiva e doce e um pai mais austero e distante, a dicotomia entre eles refletem na educação de seus filhos, podemos dizer que até vemos certos elementos freudianos nas relações familiares.

Não podemos deixar de fora um dos elementos mais característicos deste romance, se não for o elemento que mais caracteriza a escrita de Virginia Woolf. O fluxo de consciência. Desta vez ele vem genuíno! Até não gosto tanto da terminação “experimental” para esta obra, pois a acho muito bem elaborada, não possui falhas e além disso, Virginia Woolf já tinha alcançado êxito em “Mrs. Dalloway” quando tratamos de fluxo de consciência na narrativa, em “Ao Farol” temos a concretização desse êxito um pouco mais elevado.

As reflexões que são postas nessa história dizem muito também sobre nós mesmos, em certos momentos somos questionados sobre o sentido de nossa própria vida e entramos em trabalho de introspecção e autocrítica. Em especial as reflexões a partir da figura da Sra. Ramsay me chamaram muito a atenção, esta personagem me comoveu inúmeras vezes e vemos que essa sensação era transpassada também para certos personagens na história, de certa forma me senti muito identificada com o processo de fluxo de consciência que Virginia Woolf criou a respeito desta personagem e sua conclusão me tirou o fôlego e acredito que isto é um ponto positivo, eu adoro autores que trazem essas sensações nas minhas leituras. Devo frisar em um momento da história que me chocou muito, foi belo demais de ler, o Sr. Ramsay e sua esposa estavam na sala e em um determinado momento, o mesmo esperava que sua esposa lhe dissesse que o amava, todavia para ela isto era impossível e aquele momento de tensão envolto da aura das duas consciências trabalhando juntas me comoveu muito, é esplendido mesmo a obra de Virginia Woolf.

Acredito que deixou de ter novidade que Virginia Woolf tornou-se uma das autoras mais queridas e admiradas por mim (ela está no mesmo patamar que Jane Austen, para mim), além disso ela tem um valor muito especial para o blog também pois foi a partir de leitura de uma obra dela que comecei tudo e sempre quando posso estou trazendo obras dela por aqui e a minha meta é conseguir trazer todas, ainda faltam alguns, mas chegaremos lá! Tenho muitas esperanças que este blog pendurará por muito tempo ainda e leituras tão maravilhosas como essa possam ser escritas por aqui. Deixo a análise com esta promessa, de persistir no blog e trazer leituras tão fabulosas quanto esta.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.


segunda-feira, 25 de março de 2019

Análise: O Morro dos ventos uivantes


Estava sentindo falta das fotos com cappuccinos kkkk

Quando falamos de clássicos de um país, na hora associamos certas obras e autores com seu lugar de origem e quando alguém fala de Inglaterra, é possível não associar este lugar com as Irmãs Bronte, e “O Morro dos ventos uivantes” possui uma essência muito única do que é uma literatura na Inglaterra, é uma de suas Magnum opus, se não for a maior! E dentro de mim, me chateava demais não ter lido ainda, mas até que enfim posso dizer que li uma das obras mais únicas já escritas no mundo!

Falar desta obra é primeiramente falar de um romance que influenciou muito uma cultura e até hoje ainda influencia muito, e que ao mesmo tempo nada parecido com isso foi recriado pois é completamente único! Além disso, é muito importante destacar o ano no qual foi escrito e sim, foi escrito por uma mulher! Emily Bronte, assim como suas irmãs e outras autoras como George Eliot e Jane Austen merece o total respeito e admiração por todas as leitoras e escritoras até hoje, pois vemos claramente que elas abriram portas para o que hoje podemos chamar de uma literatura feminina completamente emancipada. Já deu para entender que este livro carrega suma importância por si só, não apenas por ser uma obra fantástica apenas.

Começamos a trama com a chegada do Sr. Lockwood até as propriedades de seu senhorio, o tão frio e misterioso Sr. Heathcliff e uma noite macabra dentro dos aposentos do “Morro dos ventos uivantes” no qual o rapaz presencia a aparição do fantasma de Catherine Linton pedindo para entrar na casa, após esse ocorrido um tanto quanto estranho, somos apresentados a Nelly, a criada que viveu na propriedade e a voz narrativa é passada para ela para contar a história trágica e dolorosa do nosso casal de protagonistas. Muitos anos antes, o dono do “Morro dos ventos uivantes”, o Sr. Earnshaw adota uma criança cigana cujo encontrou em uma de suas viagens e o colocou para viver junto do seu casal de filhos. Este era Heathcliff e nesse momento sua vida estava condenada para sempre a tormenta e ao ódio.

Heathcliff era querido pelo Sr. Earnshaw, mas odiado pelo filho mais velho que desde sempre o maltratou ou desprezou, e dentro do jovem um ódio pelo tal foi crescendo e após a morte do pai, sua vida foi cada vez mais piorando, sendo tratado com certa degradação. Ao mesmo tempo, seu amor por Cathy crescia a cada dia e o sentimento era recíproco, todavia, não o suficiente para curar as mazelas que o jovem possuía e eis que chegamos a um ponto crítico da história. 

Temos em mente que o amor sempre é o sentimento redentor e pleno de toda história de amor, a partir dele tudo seria resolvido, mas no caso desta história é o contrário, acredito que o amor dos dois era cada vez mais venenoso para o espírito dos dois, podemos dizer que era um amor doentio e muito preocupante, cujo abusava e destruía ambos. Sim, não temos um arquétipo de bondade tecido na personalidade dos dois protagonistas, ao mesmo tempo que Heathcliff é insano e doentio, Cathy possui inúmeros defeitos também, ela é egoísta e mesquinha, tanto ao ponto de se recusar a casar com Heathcliff e casar com Edgar Linton devido convenções sociais, alimentando ainda mais a doença horrível que existia dentro de Heathcliff, ambos eram culpados pela destruição do outro.

Sim, em todos os momentos vemos o caráter dos personagens sendo colocados em cheque, inclusive da própria narradora dos fatos, cujo eu acho completamente manipuladora uma vez que ela possui uma opinião bem formada de cada um, tecendo críticas as suas ações e demonstrando o quanto ela poderia interferir nos destinos ali prescritos. Voltando a história, por anos Heathcliff some da charneca e quando retorna, retorna extremamente rico a ponto de comprar as dívidas do irmão de Cathy, se tornando dono do “Morro dos ventos uivantes”, mas nesse momento sua alma está completamente corrompida e cheia de vingança da família Earnshaw, inclusive da própria Cathy no qual ele amava tanto a ponto de querer sua destruição, então começa a arquitetar inúmeras façanhas com o intuito de ser dono de todas as propriedades e desmoralizar a família de Cathy. Eis que Cathy falece no parto, e todos os planos de Heathcliff se mostram ter êxito, mas o mesmo não encontrava paz, sempre fomentado por mais maldade e vingança.

No final, podemos ver uma leve redenção do personagem, mas ela é muito tênue, ele tem um fim junto de sua solidão, fadado a ter seu espírito junto de Cathy, cujo não tinha paz por vagar pela charneca, podemos ver que apenas a morte de ambos apaziguaria tudo e lhe trariam o amor merecido, e podemos ver o quão trágico isso é, a história é completamente trágica, mas isso não quer dizer que seja ruim, pelo contrário, é um dos romances mais perfeitos e originais que já li, não há nada parecido com isso.

Agora, indo para considerações pessoais minhas. Sim, é maravilhoso demais! Todavia, não pode ser dado como um modelo ideal de romance, pois não é justificável o quão abusivo e doentio o casal protagonista foi um com o outro e vejo muito Cathy e Heathcliff dados como heróis ideais de amor, sendo que o amor deles é completamente envenenado e deve ser olhado com muito cuidado, não pode ser dado como ideal. Não deve se associar a figura de Heathcliff com a figura do Sr. Darcy por exemplo, que é muito mais romântica do que ele, Heathcliff é um homem completamente irracional e doente, nenhum pouco romântico e muito sofrido pela vida. Então, devemos desassociar a figura romântica desta obra e apreciar a quão genuína e maravilhosa – a sua maneira, completamente fantasmagórica – ela é!

Com carinho, Malu, a Traça dos livros.

quarta-feira, 6 de março de 2019

Análise: O mesmo mar, leiam Amós Oz




Hoje a postagem é mais do que especial, pela primeira vez li uma obra de um escritor cujo eu tenho profunda admiração e total respeito, Amós Oz. Para aqueles que desconhecem esse nome, Amós Oz é um escritor israelense muito conhecido pelo seu ativismo pacífico, porém com inúmeras críticas ao governo de seu país, ganhador de grandes prêmios, Amós é um dos escritores mais conhecidos e aclamados de Israel. Conheci Amós Oz através da minha mãe, ela havia assistido ao filme “De amor e trevas” que conta a história do autor e ficou encantada, fiz a mesma coisa e o resultado foi igual, no natal lhe presenteei com um livro dele, o mesmo livro que acabei de ler, digamos que eu o peguei emprestado.

Minha ansiedade e expectativa estavam bem altas quanto a ler qualquer coisa deste autor e percebi que poucos blogs ou canais literários possuem o nome de Amós Oz em suas leituras, então começar a leitura foi com certeza muito animador e nenhum momento me decepcionou, acredito que foi uma das experiências literárias mais ricas que já tive na minha vida! É difícil começar a explicar esta obra, mas ela é completamente enriquecedora em vários aspectos.
Contar do que se trata a história é um pouco complexo, porque o grau de elaboração deste livro é tão elevado e ao mesmo tempo com uma linguagem simples que chega a ser difícil definir parâmetros para ele. Acredito que os propósitos de Amós Oz de transcender os campos da forma na literatura foram muito bem executados, não é à toa que o autor demorou por volta de cinco anos para concluir a obra.

O enredo é uma união de histórias curtas, uma sequência que não segue uma ordem cronológica exata e alterna entre os personagens, além de fábulas, sonhos e parábolas bíblicas. Trata-se se um romance muito poético, cujo as páginas relatam os fatos sucintamente e com uma linguagem em prosa poética que em certos momentos transcendem para outros gêneros e chegam até mesmo ao status de uma autobiografia. “O mesmo mar” retrata como a vida está entrelaçada com nossos sentimentos e como tudo está interligado, o eixo principal está centrado em Albert Danon, um recente viúvo que, após a morte de sua esposa, se vê sozinho uma vez que seu único filho, Rico, para o Tibete em busca de reconforto. Durante sua viagem, sua namorada, Dita se aproxima do sogro e a relação de ambos começa a ter outros destinos.

Todavia, não é apenas sobre isso que o romance fala, outros arcos são explorados com ligação aos personagens e inclusive, nosso Narrador, sendo este o próprio escritor tem o caráter de personagem que vive entre a trama da história. É muito importante salientar a presença de fragmentos autobiográficos no livro, na minha opinião é um dos aspectos mais belos de toda a história, pois além de nos familiarizar com cada personagem, o autor também nos familiariza com sua própria história de uma forma muito singela.

Um ponto que vou frisar neste parágrafo é o uso das imagens durante toda a obra. Amós Oz traz em todas as histórias imagens da natureza e do espaço ao redor dos personagens e isto se torna muito importante para o desenvolvimento de tudo pois interfere nitidamente na personalidade e na aura dos personagens e na própria história. O mar, as estrelas, a noite, as montanhas, são características muito presentes e ouso dizer que se tornam até mesmo personagens.

O romance é íntimo, singelo, nobre, nos arrebata do começo ao fim, nos situa de cada situação e nos traz calma a partir de sua linguagem tão bela e rica. É um romance completo! Tão ameno e preciso, que passa sua mensagem igualmente como o autor buscava mesmo, com muita paz. Recomendo, leiam Amós Oz e se encantem.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

terça-feira, 5 de março de 2019

Minhas leituras das férias III




Enfim as minhas férias estão chegando ao final, posso dizer que tive um período bem longo (quase três meses) e que me rendeu várias leituras, e como já está sendo praxe do blog fazer o levantamento das leituras das férias, em 2019 o costume não será perdido. Como entrei em férias em dezembro, vou começar com a leitura que estava fazendo naquele momento e terminarei com o último livro lido, todos eles com um breve comentário e uma nota.

  • Livro 1: Emma (Jane Austen)

Dezembro é o mês da minha autora favorita da vida e esse ano escolhi ler “Emma” uma das personagens mais emblemáticas de toda a sua obra – suspeito que ela seja a mais completa de todas – e que me proporcionou uma leitura apaixonante da cabeça aos pés. Fazia um tempo que eu não lia nada da Jane e foi maravilhoso estar em contato outra vez com sua obra, me fez lembrar das razões a qual amo tanto esta autora.
Nota: 5 (Para Jane Austen, sempre a nota máxima!!)
  • Livro 2: Cem anos de solidão (Gabriel Garcia Marquez)

É difícil começar a falar deste livro, pois acho que foi um dos livros que mais me impactaram em toda a minha vida, terminei 2018 com uma das melhores leituras que já tive, é sublime em toda a sua essência! Com certeza terei que ler mais livros do autor e reler a história. Uma literatura fundamental que pelo menos uma vez na vida você precisa conhecer e apreciar. Sem mais, é perfeito!
Nota: 5 pois essa é a máxima, mas merecia muito mais!
  • Livro 3: A Revolução dos bichos (George Orwell)

Minha primeira leitura de 2019 e precisa! Em um ano tão incerto, foi muito bom reler esta obra e repensar nas ações que ocorrem ao nosso redor. Este livro ensina e edifica, te faz refletir e questionar certos pontos, é genial!
Nota: 5
  • Livro 4: Macuinaíma (Mario de Andrade)

Já que estava de férias, nada melhor do que usar meu tempo livro para ler os livros que serão obrigatórios nesse semestre e comecei com “Macuinaíma” e realmente tive muita dificuldade. Percebi todo o conceito que ali rodeava na narrativa, mas foi algo cansativo e complicado, acredito que quando eu tiver aulas teóricas sobre a obra, meu horizonte irá se expandir, mas por enquanto tenho algumas críticas e dúvidas.
Nota: 3.5
  • Livro 5: Profissão para mulheres e outros textos feministas (Virginia Woolf)

Não podia deixar de ler algo relacionado a Virginia Woolf esse ano e escolhi uma reunião de ensaios que me deixaram emocionada. Suas palavras foram inspiradoras e me acalentaram durante a leitura, é incrível a força que esta autora tem ao escrever suas obras. Simplesmente esplêndido.
Nota: 5 (maravilhoso, merecia muito mais)
  • Livro 6: Eu sei por que o pássaro canta na gaiola (Maya Angelou)

Tudo que ali está retratado é tão intenso e profundo que chega a ser difícil descrever, posso dizer que daquele dia em diante – quando acabei a leitura – me tornei a maior fã e admiradora do trabalho de Maya Angelou, é uma autora fabulosa e carismática demais!
Nota: 5 (com louvor!!)
  • Livro 7: Memórias sentimentais de João Miramar (Oswald de Andrade)

Mais um Modernismo Brasileiro para a faculdade, mas dessa vez a dificuldade foi muito menor e me diverti muito com a leitura e a forma no qual a história é contada. Depois desse livro, me animei a ler outros livros da faculdade.
Nota: 3.9
  • Livro 8: Libertinagem (Manuel Bandeira)

Sem dúvidas o livro obrigatório que mais amei ler! Descobri que sou uma das maiores fãs desse livro antes mesmo de ter lido ele por completo, uma vez que a maioria dos poemas reunidos na obra são um dos meus poemas favoritos. É belo, é singelo, é perfeito em sua essência!
Nota: 5 (maravilhoso demais!)
  • Livro 9: O sentimento do mundo (Carlos Drummond de Andrade)

Este livro também foi para a faculdade e além disso foi uma releitura, havia lido no colegial para o vestibular e foi uma sensação boa outra vez ler esta obra tão bonita, ainda consegui me recordar do meu querido professor de literatura, Gilmar, fazendo as análises de cada poema com todo amor do mundo. O amor que eu busco enquanto professora.
Nota: 4.5
  • Livro 10: A rosa do povo (Carlos Drummond de Andrade)

Ao contrário de “O sentimento do mundo”, este livro tem um tom mais crítico e mais triste também, a leitura foi mais demorada e mais reflexiva, vemos o conflito do autor nas palavras. Todavia, não deixa de ser genial.
Nota: 4

  • Livro 11: A montanha mágica (Thomas Mann)

O livro que me tomou um mês de leitura, várias vezes pensei em desistir, mas que valeu completamente a pena! É complexo, porém completo, é descritivo, porém preciso, não tem muito o que pontuar, é uma leitura fantástica!
Nota: 4.5

Resumindo, foi muito satisfatória todas as leituras realizadas nas férias, o grande período de tempo me fez expandir minhas capacidades e me teceu reflexões, dúvidas e críticas e alcançar este propósito é muito interessante. Estou voltando a minha rotina normal, espero que mais experiências literárias possam surgir e que eu use este blog como forma de expressar tudo que será lido.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.