É difícil começar sempre uma
análise e quanto mais eu leio os romances de Virginia Woolf, este espírito de
captar a essência se torna mais importante e chega a me dar certa ansiedade
sobre como começar, uma vez que sua obra é esplendida em todos os sentidos e
desta vez somos levados a um passeio ao farol, um fato tão simples
primeiramente e que se transforma em uma grande jornada sobre o sentido da
vida.
É nítido que estamos lidando com
uma literatura suprema, assim como estamos lidando com uma das obras mais bem
trabalhadas da autora. Publicado em 1927, “Ao Farol” traz muitas
características semelhantes ao seu outro romance, publicado anteriormente,
“Mrs. Dalloway”, todavia, temos um certo aprimoramento narrativo acontecendo nesta
história e, acredito eu, o ápice deste estilo seria publicado anos depois com
“As Ondas” – meu romance favorito dela.
Temos um enredo considerado simples
nesta história, é apresentado ao leitor a família Ramsay, uma família inglesa
abastada que, junto de amigos vai passar suas férias na Ilha de Skye, a
Escócia, conhecida pelo seu belo Farol. Entretanto, a simplicidade do enredo é
equilibrada perto da grandeza artística e estrutural que esta obra possui, uma
vez que temos um romance multifacetado, que traz elementos experimentais muito
bem executados, estabelecendo assim, um estilo completamente consistente e
muito bem trabalhado, cujo dará a Virginia Woolf um grande renome.
A presente família, em clima de
férias, durante uma noite questiona a si mesmos sobre a vida que estão vivendo
enquanto esperam o dia clarear para a possibilidade de passearem até o farol. O
romance é dividido em três partes e não possui uma linearidade concreta, ou
seja, temos idas e vindas sobre os acontecimentos, contados por pontos de
vistas distintos dos personagens, trazendo uma elaboração artística muito bem-feita.
Não me atentarei muito aos personagens especificamente, mas é muito importante
frisar que todos eles nos são apresentados a partir do ponto de vista de outros
personagens, ou seja, temos uma narração a partir da visão do outro, o que é
muito interessante. Além do mais, não tem como deixar de fora o fato que os
personagens do Sr. E a Sra. Ramsay possuem características muito bem fixas e
que se referem aos pais da própria autora, que muitas vezes caracterizou este
romance como uma “elegia biográfica”. Temos uma mãe compreensiva e doce e um
pai mais austero e distante, a dicotomia entre eles refletem na educação de
seus filhos, podemos dizer que até vemos certos elementos freudianos nas
relações familiares.
Não podemos deixar de fora um dos
elementos mais característicos deste romance, se não for o elemento que mais
caracteriza a escrita de Virginia Woolf. O fluxo de consciência. Desta vez ele
vem genuíno! Até não gosto tanto da terminação “experimental” para esta obra,
pois a acho muito bem elaborada, não possui falhas e além disso, Virginia Woolf
já tinha alcançado êxito em “Mrs. Dalloway” quando tratamos de fluxo de consciência
na narrativa, em “Ao Farol” temos a concretização desse êxito um pouco mais
elevado.
As reflexões que são postas nessa
história dizem muito também sobre nós mesmos, em certos momentos somos
questionados sobre o sentido de nossa própria vida e entramos em trabalho de introspecção
e autocrítica. Em especial as reflexões a partir da figura da Sra. Ramsay me
chamaram muito a atenção, esta personagem me comoveu inúmeras vezes e vemos que
essa sensação era transpassada também para certos personagens na história, de
certa forma me senti muito identificada com o processo de fluxo de consciência que
Virginia Woolf criou a respeito desta personagem e sua conclusão me tirou o fôlego
e acredito que isto é um ponto positivo, eu adoro autores que trazem essas sensações
nas minhas leituras. Devo frisar em um momento da história que me chocou muito,
foi belo demais de ler, o Sr. Ramsay e sua esposa estavam na sala e em um
determinado momento, o mesmo esperava que sua esposa lhe dissesse que o amava,
todavia para ela isto era impossível e aquele momento de tensão envolto da aura
das duas consciências trabalhando juntas me comoveu muito, é esplendido mesmo a
obra de Virginia Woolf.
Acredito que deixou de ter novidade
que Virginia Woolf tornou-se uma das autoras mais queridas e admiradas por mim
(ela está no mesmo patamar que Jane Austen, para mim), além disso ela tem um
valor muito especial para o blog também pois foi a partir de leitura de uma
obra dela que comecei tudo e sempre quando posso estou trazendo obras dela por
aqui e a minha meta é conseguir trazer todas, ainda faltam alguns, mas
chegaremos lá! Tenho muitas esperanças que este blog pendurará por muito tempo
ainda e leituras tão maravilhosas como essa possam ser escritas por aqui. Deixo
a análise com esta promessa, de persistir no blog e trazer leituras tão
fabulosas quanto esta.
Com carinho, Malu, a Traça dos
Livros.
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