quarta-feira, 6 de março de 2019

Análise: O mesmo mar, leiam Amós Oz




Hoje a postagem é mais do que especial, pela primeira vez li uma obra de um escritor cujo eu tenho profunda admiração e total respeito, Amós Oz. Para aqueles que desconhecem esse nome, Amós Oz é um escritor israelense muito conhecido pelo seu ativismo pacífico, porém com inúmeras críticas ao governo de seu país, ganhador de grandes prêmios, Amós é um dos escritores mais conhecidos e aclamados de Israel. Conheci Amós Oz através da minha mãe, ela havia assistido ao filme “De amor e trevas” que conta a história do autor e ficou encantada, fiz a mesma coisa e o resultado foi igual, no natal lhe presenteei com um livro dele, o mesmo livro que acabei de ler, digamos que eu o peguei emprestado.

Minha ansiedade e expectativa estavam bem altas quanto a ler qualquer coisa deste autor e percebi que poucos blogs ou canais literários possuem o nome de Amós Oz em suas leituras, então começar a leitura foi com certeza muito animador e nenhum momento me decepcionou, acredito que foi uma das experiências literárias mais ricas que já tive na minha vida! É difícil começar a explicar esta obra, mas ela é completamente enriquecedora em vários aspectos.
Contar do que se trata a história é um pouco complexo, porque o grau de elaboração deste livro é tão elevado e ao mesmo tempo com uma linguagem simples que chega a ser difícil definir parâmetros para ele. Acredito que os propósitos de Amós Oz de transcender os campos da forma na literatura foram muito bem executados, não é à toa que o autor demorou por volta de cinco anos para concluir a obra.

O enredo é uma união de histórias curtas, uma sequência que não segue uma ordem cronológica exata e alterna entre os personagens, além de fábulas, sonhos e parábolas bíblicas. Trata-se se um romance muito poético, cujo as páginas relatam os fatos sucintamente e com uma linguagem em prosa poética que em certos momentos transcendem para outros gêneros e chegam até mesmo ao status de uma autobiografia. “O mesmo mar” retrata como a vida está entrelaçada com nossos sentimentos e como tudo está interligado, o eixo principal está centrado em Albert Danon, um recente viúvo que, após a morte de sua esposa, se vê sozinho uma vez que seu único filho, Rico, para o Tibete em busca de reconforto. Durante sua viagem, sua namorada, Dita se aproxima do sogro e a relação de ambos começa a ter outros destinos.

Todavia, não é apenas sobre isso que o romance fala, outros arcos são explorados com ligação aos personagens e inclusive, nosso Narrador, sendo este o próprio escritor tem o caráter de personagem que vive entre a trama da história. É muito importante salientar a presença de fragmentos autobiográficos no livro, na minha opinião é um dos aspectos mais belos de toda a história, pois além de nos familiarizar com cada personagem, o autor também nos familiariza com sua própria história de uma forma muito singela.

Um ponto que vou frisar neste parágrafo é o uso das imagens durante toda a obra. Amós Oz traz em todas as histórias imagens da natureza e do espaço ao redor dos personagens e isto se torna muito importante para o desenvolvimento de tudo pois interfere nitidamente na personalidade e na aura dos personagens e na própria história. O mar, as estrelas, a noite, as montanhas, são características muito presentes e ouso dizer que se tornam até mesmo personagens.

O romance é íntimo, singelo, nobre, nos arrebata do começo ao fim, nos situa de cada situação e nos traz calma a partir de sua linguagem tão bela e rica. É um romance completo! Tão ameno e preciso, que passa sua mensagem igualmente como o autor buscava mesmo, com muita paz. Recomendo, leiam Amós Oz e se encantem.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário