Para
voltar a escrever, eu tinha que ter um bom motivo e nesse mundo tão complicado,
me parecia difícil achar esta faísca que me fizesse voltar a ser a mesma Traça,
cheia de alegria e histórias para contar. Todavia, este dia chegou uma tenho um
motivo muito especial para compartilhar com vocês, este motivo é uma história de
duas mulheres que de certa forma, estão unidas na minha vida, e engraçado ou
não, ambas possuem os mesmos nomes, a primeira é Carolina Maria de Jesus, a
escritora e Maria de Jesus Ribeiro da Silva, minha avó.
Ao
contrário de mim, Traça dos Livros, minha vó não lê muito, é um hobby muito
quieto para ela, minha vó é muito mais aquela pessoa que não para, que faz
muitas coisas em casa e sempre com o rádio ligado para se divertir, um tipo de
mulher que um dia está na cozinha e no outro está em Paris. Minha vó teve uma
vida difícil e cheia de histórias de superação (que na verdade dariam um bom
livro), e os livros não estiveram neste plano principal, mas, com muito
orgulho, minha vó fala com todas as letras que o livro que ela conseguiu
completar uma leitura foi “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus.
Minha
vó ganhou este livro na década de 1970, minha vó conhecia a história e ficou
interessada, um dia conversando com um amigo de meu avô sobre o livro, o mesmo disse
ter o livro e lhe deu de presente seu exemplar e foi então que a história das
duas se uniram para sempre. Que maravilha ter orgulho de ler um livro desses!
Porém,
onde eu entro nessa história? Bem, quando eu passei no curso de letras, na Universidade
Federal de São Carlos, acabei descobrindo que a mesma autora era homenageada
pelo Centro Acadêmico da instituição e comentando com a minha avó sobre isso,
foi quando ela me deu seu livro e a história das duas chegaram até mim. Aqui está
comigo, um dos primeiros pertences que levei para minha nova casa, guardado
como tesouro de alto valor, um exemplar da primeira edição da década de 1960,
ano da primeira publicação do “Quarto de Despejo”.
Hoje,
estou lendo o livro para uma matéria da graduação, mas o exemplar ainda permanece
comigo, guardado com todo o cuidado existente neste mundo. Não é apenas um
livro maravilhoso, mas é ainda mais maravilhoso esse sentimento de ter uma
história por trás de outra história em um livro que tem muito mais anos do que
eu tenho de vida, ele pode estar um pouco deteriorado pelo tempo, por isso não
gosto muito de manuseá-lo toda hora e ainda não tenho coragem de levar para alguém
restaurar, mas as histórias estão ali, estão em mim, em minha vó, em todas as
pessoas que perpetuam o nome de Carolina Maria de Jesus ao mundo, pois
precisamos que cada vez mais esses livros cheguem nas pessoas e as toquem com
sua delicadeza.
E são nesses momentos em que penso.... Que dádiva
poder ter um livro consigo, com ele, a história nunca acaba, ela se transforma.
Com
carinho, Malu, a Traça dos Livros.
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