segunda-feira, 25 de março de 2019

Análise: O Morro dos ventos uivantes


Estava sentindo falta das fotos com cappuccinos kkkk

Quando falamos de clássicos de um país, na hora associamos certas obras e autores com seu lugar de origem e quando alguém fala de Inglaterra, é possível não associar este lugar com as Irmãs Bronte, e “O Morro dos ventos uivantes” possui uma essência muito única do que é uma literatura na Inglaterra, é uma de suas Magnum opus, se não for a maior! E dentro de mim, me chateava demais não ter lido ainda, mas até que enfim posso dizer que li uma das obras mais únicas já escritas no mundo!

Falar desta obra é primeiramente falar de um romance que influenciou muito uma cultura e até hoje ainda influencia muito, e que ao mesmo tempo nada parecido com isso foi recriado pois é completamente único! Além disso, é muito importante destacar o ano no qual foi escrito e sim, foi escrito por uma mulher! Emily Bronte, assim como suas irmãs e outras autoras como George Eliot e Jane Austen merece o total respeito e admiração por todas as leitoras e escritoras até hoje, pois vemos claramente que elas abriram portas para o que hoje podemos chamar de uma literatura feminina completamente emancipada. Já deu para entender que este livro carrega suma importância por si só, não apenas por ser uma obra fantástica apenas.

Começamos a trama com a chegada do Sr. Lockwood até as propriedades de seu senhorio, o tão frio e misterioso Sr. Heathcliff e uma noite macabra dentro dos aposentos do “Morro dos ventos uivantes” no qual o rapaz presencia a aparição do fantasma de Catherine Linton pedindo para entrar na casa, após esse ocorrido um tanto quanto estranho, somos apresentados a Nelly, a criada que viveu na propriedade e a voz narrativa é passada para ela para contar a história trágica e dolorosa do nosso casal de protagonistas. Muitos anos antes, o dono do “Morro dos ventos uivantes”, o Sr. Earnshaw adota uma criança cigana cujo encontrou em uma de suas viagens e o colocou para viver junto do seu casal de filhos. Este era Heathcliff e nesse momento sua vida estava condenada para sempre a tormenta e ao ódio.

Heathcliff era querido pelo Sr. Earnshaw, mas odiado pelo filho mais velho que desde sempre o maltratou ou desprezou, e dentro do jovem um ódio pelo tal foi crescendo e após a morte do pai, sua vida foi cada vez mais piorando, sendo tratado com certa degradação. Ao mesmo tempo, seu amor por Cathy crescia a cada dia e o sentimento era recíproco, todavia, não o suficiente para curar as mazelas que o jovem possuía e eis que chegamos a um ponto crítico da história. 

Temos em mente que o amor sempre é o sentimento redentor e pleno de toda história de amor, a partir dele tudo seria resolvido, mas no caso desta história é o contrário, acredito que o amor dos dois era cada vez mais venenoso para o espírito dos dois, podemos dizer que era um amor doentio e muito preocupante, cujo abusava e destruía ambos. Sim, não temos um arquétipo de bondade tecido na personalidade dos dois protagonistas, ao mesmo tempo que Heathcliff é insano e doentio, Cathy possui inúmeros defeitos também, ela é egoísta e mesquinha, tanto ao ponto de se recusar a casar com Heathcliff e casar com Edgar Linton devido convenções sociais, alimentando ainda mais a doença horrível que existia dentro de Heathcliff, ambos eram culpados pela destruição do outro.

Sim, em todos os momentos vemos o caráter dos personagens sendo colocados em cheque, inclusive da própria narradora dos fatos, cujo eu acho completamente manipuladora uma vez que ela possui uma opinião bem formada de cada um, tecendo críticas as suas ações e demonstrando o quanto ela poderia interferir nos destinos ali prescritos. Voltando a história, por anos Heathcliff some da charneca e quando retorna, retorna extremamente rico a ponto de comprar as dívidas do irmão de Cathy, se tornando dono do “Morro dos ventos uivantes”, mas nesse momento sua alma está completamente corrompida e cheia de vingança da família Earnshaw, inclusive da própria Cathy no qual ele amava tanto a ponto de querer sua destruição, então começa a arquitetar inúmeras façanhas com o intuito de ser dono de todas as propriedades e desmoralizar a família de Cathy. Eis que Cathy falece no parto, e todos os planos de Heathcliff se mostram ter êxito, mas o mesmo não encontrava paz, sempre fomentado por mais maldade e vingança.

No final, podemos ver uma leve redenção do personagem, mas ela é muito tênue, ele tem um fim junto de sua solidão, fadado a ter seu espírito junto de Cathy, cujo não tinha paz por vagar pela charneca, podemos ver que apenas a morte de ambos apaziguaria tudo e lhe trariam o amor merecido, e podemos ver o quão trágico isso é, a história é completamente trágica, mas isso não quer dizer que seja ruim, pelo contrário, é um dos romances mais perfeitos e originais que já li, não há nada parecido com isso.

Agora, indo para considerações pessoais minhas. Sim, é maravilhoso demais! Todavia, não pode ser dado como um modelo ideal de romance, pois não é justificável o quão abusivo e doentio o casal protagonista foi um com o outro e vejo muito Cathy e Heathcliff dados como heróis ideais de amor, sendo que o amor deles é completamente envenenado e deve ser olhado com muito cuidado, não pode ser dado como ideal. Não deve se associar a figura de Heathcliff com a figura do Sr. Darcy por exemplo, que é muito mais romântica do que ele, Heathcliff é um homem completamente irracional e doente, nenhum pouco romântico e muito sofrido pela vida. Então, devemos desassociar a figura romântica desta obra e apreciar a quão genuína e maravilhosa – a sua maneira, completamente fantasmagórica – ela é!

Com carinho, Malu, a Traça dos livros.

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