“Quero ter nos braços a graça que ainda não apareceu no mundo" (Pág. 268)
Eu sei, fazia um tempo que eu não
aparecia por aqui, mas tenho explicações. Desta vez a faculdade não tomou meu
tempo e minhas leituras, nesse mês um sonho meu se concretizou, fiz uma breve
viagem cujo ainda renderá algumas palavras aqui no blog a acabei ficando para
trás em relação as leituras do blog, mas compensarei logo, logo.
Voltei para o Brasil e já decidi me
aventurar em um novo mundo, o mundo da literatura irlandesa e – acredito eu –
um dos maiores nomes de seu país. James Joyce. Meu primeiro contato com o autor
foi na faculdade, na aula de Teoria do Texto Poético, meu professor citou seu
nome e lembro claramente dele dizer estas palavras “um leitor de verdade um dia
precisará ler um James Joyce, leiam sem medo. ”, eis que aqui estou com minha
primeira leitura deste autor, o autor que deu voz a Irlanda.
“Retrato do artista quando jovem”
poderia ser categorizado como um “romance de formação”, aquela obra cujo vemos
o crescimento do seu protagonista ao lermos cada página e sua evolução pessoal
e nesse caso, é nitidamente perceptível os traços de autobiografia do autor acerca
dos temas que ele aborda com um êxito sem igual. James Joyce queria dar voz a
Irlanda na literatura, claramente vemos que ele conseguiu.
Nesta trama, somos apresentados a
Stephen Dedalus (clara referência ao herói da mitologia grega, Dédalo) um
garoto irlandês que parte para um colégio interno católico, temos então a
construção moral de nosso protagonista sendo moldada a partir dos ensinamentos
religiosos ali impostos pela instituição, todavia, quanto mais o tempo passava,
a moral e a fé de Stephen vai ser colocada cada vez mais a prova ou em
questionamento, questionamentos estes que o mesmo lhe faz a todo tempo.
Stephen terá inúmeras experiências ao
decorrer da história, sendo elas sagradas ou profanas e que serão essenciais
para sua evolução como homem. Vemos sua relação com a família sendo
fortificada, sua perda de fé, seu arrependimento e até mesmo seu temor quanto a
religião muito bem retratada. É importante frisar em uma parte do texto no qual
Stephen pergunta ao sacerdote sobre o inferno e temos uma descrição de várias
páginas sobre o quão terrível e temoroso o inferno é, mostrando claramente como
a religião tinha um dom de persuasão e controle, ainda mais naquele país
católico como a Irlanda. Temos também discussões políticas a flor da pele sendo
ocorrida pelos olhos do protagonista e também os ensinamentos do protestantismo
sendo apresentados a ele. Vemos a intenção de James Joyce de nos dar um amplo
panorama não apenas do espaço da narrativa, mas também do espaço no qual a Irlanda
se inseria.
É necessário ressaltar que existe
uma evolução do artista na voz de Stephen, desde o começo temos os seus versos
expostos para nós leitores, enquanto lemos sobre sua trajetória. Em Stephen,
existe uma vontade ou talvez um grande desejo de eternizar a Irlanda através da
literatura, acredito também que este era um desejo de Joyce também, então nosso
desfecho mostra que o caminho no qual Stephen optou por seguir seria glorioso
no âmbito das artes, uma promessa para a Irlanda, assim como James Joyce. Joyce
traz um novo trabalho, procura nos apresentar um novo estilo, trazendo fluxos
de consciência constantes e altamente descritivos (lembremos que Virginia Woolf
estava fazendo o mesmo estilo, quase que na mesma época lá na Inglaterra,
inclusive sua editora recusou a publicar Ulysses) James Joyce nos mostra sua libertação
e autonomia e mais para frente lhe renderia grandes êxitos, esta obra é apenas
o começo de uma grande trajetória mesmo.
Foi uma experiência incrível e que
me instigou muito a querer ler mais sobre este autor, na verdade devo confessar
que temia muito seu tipo de literatura, mas após esta leitura, fiquei cada vez
mais instigada a ler sua obra, quem sabe em breve teremos uma análise de
Ulysses? Seria incrível! Por ora, é isto e devo dizer... uau! Eu estava
sentindo falta de escrever por aqui!
Com carinho, Malu, a Traça dos
Livros.
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