segunda-feira, 9 de julho de 2018

Análise: Um Teto Todo Seu, um ensaio sobre ser escritora



E mais uma vez eu trago Virginia Woolf para o blog, mas dessa vez, Virginia veio de uma forma mais mordaz, mais reflexiva, não deixando de ser inesquecível.

Na década de 1920, Virginia Woolf – já uma autora de renome -  foi convidada a ministrar palestras sobre “mulheres e a ficção” em duas universidades inglesas, então, temos em “Um Teto Todo Seu” a reunião de seis ensaios da autora sobre este tema que ela teve que se debruçar, o papel da mulher na ficção. Todavia, a abordagem que ela opta é completamente diferente.

Durante os seis ensaios, Virginia frisa na ideia de que para a mulher obter sucesso na escrita literária ela precisa disponibilizar de uma certa quantia de libras e um teto que seja seu. Ou seja, ela precisa ser independente do círculo social que lhe é imposto através dos valores vividos da época, então vemos a autora discutindo diretamente a posição da mulher na sociedade.

Podia-se muito bem apenas ser abordados livros belos e sublimes cujo mulheres fazem parte e dizer quanta genialidade ali possuía, mas Virginia Woolf não queria trazer isso, outro caminho foi percorrido, o caminho da reflexão. A autora de forma única cria um ambiente narrativo para tratar de um discurso direto, tudo isso combinado com o fazer único de literatura de Virginia Woolf, então podemos ver os fluxos de consciência e a escrita lírica da autora nas palavras do ensaio.

Dois pontos quero destacar nessa obra que foram muito importantes para mim, ambos falam de dois autores canônicos. Primeiramente, Virginia Woolf traz a nome de Shakespeare e tudo que este gênio carrega, todavia, ela faz uma breve reflexão, se Shakespeare tivesse uma irmã tão genial quanto ele, ela obteria o mesmo sucesso? E a resposta a autora mesmo nos fornece, a resposta é não. Não, pois a irmã de Shakespeare, na sua época, foi engolida pelas convenções sociais cujo ela pertencia e muito menos ela poderia ser tão genial quanto o irmão uma vez que nunca teria igual educação que foi oferecida ao escritor. Virginia coloca em questionamento a disparidade da educação entre homens e mulheres e como tantas mulheres foram silenciadas ao longo do tempo.

Outro ponto que quero muito destacar é o fato de Virginia Woolf citar Jane Austen. – este parágrafo será mais pessoal – Jane Austen é minha autora favorita, na verdade gosto de dizer que ela é a autora da minha vida, porém neste blog nunca coloquei um post exclusivo para ela, enquanto para Virginia Woolf será a quarta vez que escrevo e foi muito importante ler como Jane Austen (além de Charlotte Bromte e George Eliot) foi tão especial e única em sua época e como isso mudou a forma da mulher se inserir na literatura. Jane Austen não é apenas chás, bailes e casamentos com homens ricos, Jane Austen trouxe voz a um grupo que não possuía espaço se quer e Virginia Woolf estampa isso em seus ensaios, em como Jane Austen e outras autoras no século XIX foram uma exceção no percurso da literatura e como sempre elas precisam ser lembradas.

A problematização da autora não se conclui, pois ela deixa o questionamento para futuras reflexões, reflexões que transcendem os tempos e hoje em dia nos coloca a pensar como é necessária uma autonomia da mulher não apenas no ambiente literário, mas na vida em geral e em Um Teto Todo Seu, Virginia Woolf traz os desafios de ser uma escritora, mas não apenas isso, ela traz os desafios de ser mulher, por isso que esta obra se torna tão necessária. 

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

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