E mais uma vez eu trago Virginia
Woolf para o blog, mas dessa vez, Virginia veio de uma forma mais mordaz, mais
reflexiva, não deixando de ser inesquecível.
Na década de 1920, Virginia Woolf –
já uma autora de renome - foi convidada
a ministrar palestras sobre “mulheres e a ficção” em duas universidades
inglesas, então, temos em “Um Teto Todo Seu” a reunião de seis ensaios da
autora sobre este tema que ela teve que se debruçar, o papel da mulher na
ficção. Todavia, a abordagem que ela opta é completamente diferente.
Durante os seis ensaios, Virginia
frisa na ideia de que para a mulher obter sucesso na escrita literária ela precisa
disponibilizar de uma certa quantia de libras e um teto que seja seu. Ou seja,
ela precisa ser independente do círculo social que lhe é imposto através dos
valores vividos da época, então vemos a autora discutindo diretamente a posição
da mulher na sociedade.
Podia-se muito bem apenas ser
abordados livros belos e sublimes cujo mulheres fazem parte e dizer quanta
genialidade ali possuía, mas Virginia Woolf não queria trazer isso, outro caminho
foi percorrido, o caminho da reflexão. A autora de forma única cria um ambiente
narrativo para tratar de um discurso direto, tudo isso combinado com o fazer único
de literatura de Virginia Woolf, então podemos ver os fluxos de consciência e a
escrita lírica da autora nas palavras do ensaio.
Dois pontos quero destacar nessa
obra que foram muito importantes para mim, ambos falam de dois autores canônicos.
Primeiramente, Virginia Woolf traz a nome de Shakespeare e tudo que este gênio carrega,
todavia, ela faz uma breve reflexão, se Shakespeare tivesse uma irmã tão genial
quanto ele, ela obteria o mesmo sucesso? E a resposta a autora mesmo nos
fornece, a resposta é não. Não, pois a irmã de Shakespeare, na sua época, foi
engolida pelas convenções sociais cujo ela pertencia e muito menos ela poderia
ser tão genial quanto o irmão uma vez que nunca teria igual educação que foi
oferecida ao escritor. Virginia coloca em questionamento a disparidade da educação
entre homens e mulheres e como tantas mulheres foram silenciadas ao longo do
tempo.
Outro ponto que quero muito
destacar é o fato de Virginia Woolf citar Jane Austen. – este parágrafo será
mais pessoal – Jane Austen é minha autora favorita, na verdade gosto de dizer
que ela é a autora da minha vida, porém neste blog nunca coloquei um post
exclusivo para ela, enquanto para Virginia Woolf será a quarta vez que escrevo
e foi muito importante ler como Jane Austen (além de Charlotte Bromte e George
Eliot) foi tão especial e única em sua época e como isso mudou a forma da mulher
se inserir na literatura. Jane Austen não é apenas chás, bailes e casamentos
com homens ricos, Jane Austen trouxe voz a um grupo que não possuía espaço se
quer e Virginia Woolf estampa isso em seus ensaios, em como Jane Austen e
outras autoras no século XIX foram uma exceção no percurso da literatura e como
sempre elas precisam ser lembradas.
A problematização da autora não se conclui, pois ela deixa o questionamento para futuras reflexões, reflexões que transcendem os tempos e hoje em dia nos coloca a pensar como é necessária uma autonomia da mulher não apenas no ambiente literário, mas na vida em geral e em Um Teto Todo Seu, Virginia Woolf traz os desafios de ser uma escritora, mas não apenas isso, ela traz os desafios de ser mulher, por isso que esta obra se torna tão necessária.
Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.
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