sábado, 30 de junho de 2018

Análise: A Maçã Envenenada, amor, morte e Nirvana




Ao som de Nevermind começo a escrever sobre este livro e nunca um disco e um livro casaram tão bem nas minhas leituras quanto esses dois, parece que tudo faz mais sentido agora, uma união perfeita.

Desde Margaret Atwood, não ando lendo muitos autores contemporâneos, muito menos nacionais, me sinto em dívida com isso pois parece que eu não valorizo a literatura do meu país, pelo contrário, eu admiro muito o que eu conheço e tenho muita vontade de descobrir mais. Então esta leitura foi muito satisfatória, além de ter sido rápida uma vez que tomou toda minha atenção.

Para começar, somos levados a atmosfera nos anos de 1993 e 1994 cujo a banda grunge Nirvana revolucionava a cultura e o comportamento dos jovens da época, tomamos conhecimento dos relatos do próprio narrador e também protagonista, um jovem de Porto Alegre que tinha uma banda de rock e servia o exército. Temos o panorama de sua vida a partir da vinda do Nirvana ao Brasil em 1993 e tudo que este acontecimento refletiu sobre sua vida até o momento que ele narra a história.

O enredo completo possui nuances e é escrito de forma não linear, então temos recortes de outros acontecimentos da vida do narrador que fazem diferença e costuram a história completa. A história tem como foco dois assuntos que influenciam completamente o andamento de todo o romance e os desdobramentos destes, que são o amor e o suicídio. Ambos, estampados com as músicas do Nirvana e mostram como esta banda refletiu sobre a vida dos personagens.

Temos o narrador como um jovem comum que conhece uma garota para sua banda e partir daquele momento um romance começa a surgir, a figura de Valéria é essencial para o desenvolvimento de toda a trama. Desde então, temos um romance sendo movido pelo amor do casal e por Kurt Cobain e assim como a música “Drain You” – que inspirou o autor a escrever a história – temos a desgaste do casal e a crise, também movida por um certo triangulo amoroso entre outro integrante da banda cujo era melhor amigo do protagonista. O momento de grande crise desse amor é nas vésperas do show do Nirvana no Brasil e temos todo o desdobramento deste narrador com sua amada.

O assunto do suicídio inicia a narrativa noticiando quando o próprio Kurt Cobain se suicidou, sendo isto um ponto crucial para a história, uma vez que as vidas de cada personagem não continuam mais as mesmas e grandes reflexões sobre este acontecimento são relatadas pelo protagonista que sempre leva aquela noticia como um fato chocante em sua vida. Além disso, outro suicídio ocorre na história e a ligação dele com a vida de todos é fundamental, pois no futuro sempre será lembrado assim como a morte de Kurt Cobain.

Não posso deixar de citar um momento particular da história cujo relata a Guerra de Ruanda a vida de Immaculée Ilibagiza e como ela sobreviveu a guerra. Ela é usada como um exemplo a ser seguido pelo protagonista, mostra sua força e dá um novo ponto de vista para a história.

Voltando ao Nirvana, é essencial ouvir a música “Drain you” para que a essencial de toda a história seja captada, isso torna o livro tão envolvente, uma vez que ele é tão eletrizante como as músicas do Nirvana além de fazer contato direto com a juventude daquela época e toda a atmosfera que rodeava, temos em “A Maçã Envenenada” não apenas a história de amor trágica, mas também temos os efeitos do amor de todos os sentidos, o êxtase e a dor, o sentimento de drenar as forças de cada um para se tornarem iguais. Apaixonados.

“Uma garota para outra diz: "Tenho sorte por ter te conhecido”
Eu não ligo para o que você pensa se não for sobre mim
E agora é minha missão, drenar você completamente
Uma viagem através de um tubo e termina na sua infecção

Mastigo sua carne pra você
Atravesso tudo
Num beijo apaixonado
Da minha boca pra sua
Porque eu sou igual a você

Com os olhos tão dilatados, me tornei aprendiz
Você me ensinou tudo sem uma maçã envenenada
A água é tão amarela, e eu um estudante saudável
Endividado e tão agradecido, sugando fluídos” (Drain You – Nirvana)

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

PS: Menção honrosa para minha diva e professora Gisele Frighetto que indicou esta obra incrível e por ser essa pessoa maravilhosa que me inspira todos os dias! 

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