foto retirada do meu Instagram
Com muita paixão começo a escrever
sobre esta obra que, sinceramente, não há palavras para descrever tudo que
senti ao ler este livro. Foram um dos melhores livros que eu já li.
Vou dividir a análise em dois
planos para que nada seja esquecido, é difícil definir um
caminho para a análise uma vez que o romance não tem um enredo em si. A narrativa
não é linear e temos vários pontos de vista sobre um mesmo acontecimento,
também temos várias vezes a retomada de assuntos e momentos que já foram
narrados anteriormente. Tudo isso ocorre, pois acredito que o autor (Milan
Kundera) quis colocar o grande tema deste romance na estrutura dele, o tema do
romance é pautado no princípio do “Eterno Retorno” de Nietzsche. Sendo breve, o
eterno retorno define basicamente a vida como um inexorável ciclo de repetições,
ou seja, fatos do passado serão repetidos no presente e também no futuro como
forma natural do ser humano.
O romance retrata a vida de quatro
personagens que estão ligados entre si, a relação deles se torna um eixo
temático do romance. O primeiro é Tomás, um médico bem-sucedido e desprendido
da vida, após seu divórcio ele embarca em inúmeras relações superficiais e
rápidas, digamos que ele é um típico mulherengo. Outra personagem é Tereza, um
dos romances fugazes de Tomás que, se transformou em um amor louco. Tereza é uma
moça sem muitos rumos e vê em Tomás um futuro, mesmo que isso a faça sofrer
devido as relações amorosas que ele ainda mantinha, Tereza é uma personagem dependente.
Uma personagem que, ao contrário de Tomás e Tereza que possuem uma carga muito
pesada na história, é completamente leve e sutil Sabina, uma artista plástica
com ideias e valores mais independente e que por um momento também foi amante
de Tomás, mas ao decorrer da história, somos também apresentados a Franz, um acadêmico
casado e com uma vida medíocre.
Então, temos a relação destes
casais estampadas no romance. Tomás e Tereza, com sua relação de amor e dependência,
Tomás e Sabina com sua relação mais libertina e Sabina e Franz com uma relação adulterina
em busca de encontrar uma leveza. Na obra, muitos momentos se contrastam entre
a leveza e o peso, volto a repetir que o autor trabalhou com o conceito além do
tema, na forma.
Outra parte que é muito importante
destacar é o contexto histórico que o romance se insere. Estamos falando da
Primavera de Praga, em 1968, que foi um período de reformas na Tchecoslováquia,
durante a época de ocupação soviética. É muito interessante ver como este
contexto reflete na vida dos personagens de forma direta e indireta. Um exemplo
é o artigo que Tomás escreve comparando os intelectuais tchecos e o momento que
eles viviam com a tragédia de "Édipo, o rei".
Agora preciso colocar minhas impressões
em texto. Foi uma leitura maravilhosa! Ela é fluída, pois a narrativa é
envolvente, as retomadas de assunto passavam como um filme em minha cabeça e as
palavras que ali foram escritas com certeza cabiam na minha realidade e fui me identificando com algumas ações dos personagens – principalmente com Sabina
- nunca coloquei tantos marcadores em um livro como coloquei neste, acredito
que logo lerei outra vez, porque será preciso reler e se ver no romance. Quero
destacar um trecho da terceira parte do livro que define um pequeno léxico de
palavras incompreendidas pelo ponto de vista de dois personagens, Sabina e
Franz.
“Para Sabina, viver significa ver. A
visão é limitada por uma dupla fronteira: a luz intensa que cega e a escuridão total.
Talvez seja daí que vem sua repugnância por todo extremismo. Os extremos
delimitam a fronteira para além da qual a vida termina, e a paixão pelo
extremismo, em arte como em política, é um desejo de morte disfarçado. ” (Pág. 100)
É sutil, é mordaz, é leve e aos
mesmo tempo é muito pesado, na verdade é humano. Por isso é tão necessário e
tão maravilhoso. É isto.
Com carinho, Malu, a Traça dos
Livros.
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