quinta-feira, 22 de março de 2018

Se o sol é para todos, por que o ódio persiste? (CBC)




“ – Chorar por causa de que, sr. Raymond? – Perguntou Dill, querendo se defender.
- Por causa Do inferno pelo qual pessoas fazem outras pessoas passarem sem nem pensar. Por causa do inferno pelo qual os brancos fazem os negros passarem, sem nem se quer pararem para pensar que eles também são gente. ” (Pág. 251)

Esta análise será diferente das anteriores, deixemos o desafio literário um pouco de lado e coloquemos nossos corações em paz e reflexão. 

Tenho em mente que uma leitura não se basta apenas do que está impresso nas páginas, os elementos exteriores também influenciam na leitura e nunca um livro foi tão influenciado com os momentos que meu redor vivia como “O sol é para todos”. Esta obra sempre me chamou a atenção e após começar o desafio literário (CBC) não tinha como adiar o meu encontro com as palavras de Harper Lee. Simplesmente era o momento propício, o momento de reflexão e crítica.

Este blog não pode se ausentar do mundo real e viver apenas em uma fantasia ideal e literária, o social deve estar presente, ainda mais agora, em momentos tão difíceis e duros, onde o ódio persiste estampado descaradamente no rosto das pessoas, ideais tão primitivos e segregacionistas ressurgem e o discurso de preconceito e discriminação torna aparente na sociedade, não dá para ficar de olhos fechados ou mostrar-se indiferente, uma vez que se torna algo inaceitável e perigoso.

“ – Eu também achava isso – ele disse, por fim -, quando tinha sua idade. Se só existe um tipo de gente, por que as pessoas não se entendem? Se são todos iguais, por que se esforçam para desprezar uns aos outros?...” (Pág. 283)

Voltando ao livro, houve inúmeros momentos cujo minhas lágrimas acabaram por me vencerem e era inevitável não pensar no atual contexto brasileiro. Uma mulher, negra, defensora daqueles que não possuem voz foi silenciada por tiros, não foi um atentado a apenas às vítimas, foi um atentado a todos nós! E é mais que necessário nos lembrarmos de Marielle Franco e sua luta diariamente, ela nunca será esquecida e estará presente não apenas nas minhas leituras, mas como também na vida diária, sendo mulher, sendo voz ativa para todas nós.

“ – Tom morreu.
Tia Alexandra colocou as mãos sobre a boca.
- Foi morto a tiros – disse Atticus. ” (Pág. 292)

A história narrada por uma menina de oito anos, Scout, nos faz refletir em que mundo nós vivemos, um mundo que as questões raciais ainda persistem, um mundo que muita injustiça ainda ocorre em todos os lugares. Não estou falando da data da publicação, da época que se contava a história ou atualmente, todavia as questões continuam em nossa sociedade e existe ainda a necessidade de serem discutidas. 

Porém, a postura desta personagem nos faz ainda ter esperança, já que ela está disposta a mudar e não concorda com o que ocorria a sua volta, devemos ter a postura de Scout, devemos sempre tentar ser melhores assim como Atticus Finch, ter os mesmos valores que ele, de ir em busca daqueles que são os inocentes, defender um acusado negro por estupro de uma moça branca, na época que as políticas segregacionistas nos EUA era muito rigorosas, mesmo que isso seja contra todos, mas defender a honra de fazer o trabalho certo. E nunca, nunca perder a esperança pois ainda no mundo existe pessoas como a Scout ou como Atticus, além disso você mesmo pode ser uma delas.

 “ – Foi preciso uma menina de oito anos para fazer eles recobrarem o bom senso, não foi? – Disse Atticus – isso prova que um bando de homens ensandecidos pode ser contido, simplesmente porque eles continuam sendo humanos. Hum, talvez precisássemos de uma força policial formada por crianças...” (Pág. 197)

Por último, eu deixo o título do livro como forma de reflexão, o mesmo sol que brilha sobre a minha cabeça é igual a de todos, pois no final todos somos iguais e este mesmo sol nos alimenta, nos dá vida, então por que o ódio? Em meio a tempos tão frios e escuros, olhemos para o sol e lembremos da luta diária pela igualdade.

#MariellePresente

Com carinho (e muita força), Malu, a Traça dos Livros.

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