Se podemos resumir este livro em
uma só palavra, seria “triste”, pois é difícil não se comover e não se indignar
com a vida difícil e sofrida da protagonista e todas as personagens femininas
deste romance, retratado no Século XIX, mas com diálogos tão recentes.
Baseado em fatos reais, Vulgo Grace
dá voz a história de Grace Marks, uma mulher que anteriormente foi acusada e
julgada como assassina, todavia não foi executada, mas cumpria prisão perpétua.
Depois de anos reclusa, Grace consegue voz através do Dr. Simon Jordan, um médico
que tinha a intenção de usá-la como instrumento de pesquisa para um novo
tratamento psiquiátrico, por muitos, Grace era considerada louca e a história
dela tornou-se interessante para seu sucesso.
Então, temos a narrativa de Grace
sobre todos os acontecimentos que antecederam o assassinado de Nancy Montgomery
e Sir. Kinnear, Grace os descreve minuciosamente, porém o momento em questão é
visto como apagado em sua memória. Grace desde nova possuiu uma vida repleta de
mazelas, imigrante da Irlanda, perde sua mãe durante a vinda ao Canadá, começa sua
rotina como criada aos treze anos, vivendo em uma família miserável. Grace tem
lampejos de alegria ao conhecer Mary Whitney, sua companheira de trabalho,
todavia o final de Mary é tão trágico quanto a vida que Grace levava e
deprimida, Grace vai trabalhar na casa do Sir. Kinnear cujo tinha Nancy
Montgomery como sua governanta.
Ao decorrer da história, a narrativa
vai oferecendo momentos de questionamento quanto a sanidade de Grace, tendo ela
uma personalidade muito áspera, não é possível saber se realmente ela era
louca, sedutora ou assassina e a intensidade dos fatos chegam a chocar não apenas
o leitor, mas também seu ouvinte, Dr. Jordan que se vê envolvido cada vez mais
pela história que o próprio expos de forma tão invasiva, por momentos é perceptível
que ele se envolveu de uma forma tão grande que chegava a ter certo interesse
sexual pela prisioneira. Consegui entender a loucura de Jordan, uma vez que os
fatos narrados por Grace são perturbadores e sofridos, muitas vezes tive que
parar a leitura pois sentia muita pena não apenas dela, mas por todas as
mulheres daquela história.
Era nesse ponto que eu queria
chegar, o sofrimento daquelas mulheres. Margaret Atwood tece um trabalho fantástico
e crítico sobre a posição daquelas mulheres na época, um debate que pode ser
levado para os dias atuais tranquilamente. A autora aborda questões como a marginalização
da figura feminina e também critica valores da época que punham mulheres em
rivalidade umas com as outras e o que isto lhes causavam. Devemos destacar três
mulheres desta história: Grace Marks, Mary Whitney e Nancy Montgomery, as vejo
quase como uma única personagem, uma alegoria ao sofrimento das mulheres, que
tiveram suas vidas banalizadas de inúmeras formas. De todas, (na verdade quase
todos os personagens não tiveram finais felizes), Grace foi a única que teve
uma redenção e cumpriu de nunca esquecer da memória das mulheres que passaram
por sua vida e tiveram fins trágicos, de certa forma, ela se via ligada a elas.
Mais uma vez, Margaret Atwood me
surpreendeu com sua escrita crítica e contemporânea, estou me convencendo que
ela atualmente é minha autora favorita, talvez porque ela aborda temas que eu
procuro em minhas leituras e Vulgo Grace não me decepcionou, eu já havia visto
a minissérie do Netflix e agora lendo o romance, me vejo tão encantada quanto. Será
o livro e a autora cujo sempre indicarei!
Com carinho, Malu, a Traça dos
Livros.
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