quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

(Análise) A Odisseia de Penélope: O retrato da mulher na sociedade


A foto a seguir foi tirado no meu Instagram, sim, eu li em pdf 


Para minha primeira publicação no blog, nada mais justo do que iniciar com uma análise de uma autora que vem ganhando muito espaço na minha estante e minha vida. Margaret Atwood. Todavia o primeiro romance desta autora que escolhi, foge da atenção das obras mais famosas já escritas por Atwood (em breve faremos resenhas também), porém se mostra tão fabulosa quanto outras. A Odisseia de Penélope, nos dá uma nova visão da tão famosa obra de Homero, que é a perspectiva feminina dos acontecimentos.

Antes de iniciarmos nossa conversa sobre a obra, preciso situar minha situação com a obra da Odisseia. Eu já havia lido anos atrás e foi somente nas matérias da faculdade que dei maior atenção para esta obra, uma vez lida com mais cuidado, muitas perguntas surgiram em minha mente e ao ler a obra de Margaret Atwood, consegui encontrar certas respostas. Uma das minhas questões era a vida de Penélope em Ítaca enquanto Odisseu estava em alto-mar.

A obra conta a história de Penélope, a esposa de Odisseu, príncipe de Ítaca, o enredo inicia-se no tempo presente, com uma narradora que conta seus relatos passados e também se ligando ao presente, a mesma nos dá o seu ponto de vista sobre a história contada por Homero. A narradora, no caso a própria protagonista, não apenas nos dá seu próprio ponto de vista na história, como também tece comentários sobre a sua vida após a morte, temos então um novo meio de enxergar a história, logo nas primeiras palavras da obra, Penélope mostra a necessidade de contar sua história no presente momento, uma vez que se vê com maior liberdade de trazer sua versão dos fatos.

Nos textos de Homero, Penélope é representada pela figura da obediência feminina e a fidelidade, uma vez que esperou por Odisseu por vinte anos, sua passagem mais famosa pela obra foi o momento cujo teve a ideia de tecer uma tapeçaria que a noite era desfeita para assim ganhar mais tempo, já que se via pressionada pelos pretendentes em Ítaca que queriam tomar o lugar de Odisseu. Na obra de Atwood, temos uma nova versão de Penélope, a astúcia e inteligência de Odisseu, também é representada em Penélope, mostrando até ser um duplo do herói grego, Penélope tinha atributos que transcendiam sua própria época – foi por essas razões que ela escolheu contar sua história no presente momento – além de ter um ponto de vista irônico e cheio de observações mordazes.

Ao ler “A Odisseia de Penélope” nos deparamos com questões ainda muito presentes em nosso cotidiano quando tratamos da mulher. A obra retrata a questão da mulher em meio a uma sociedade patriarcal, a busca de espaço em um ambiente de limitações, a competição feminina imposta por valores conservadores e a turva visão masculina dos acontecimentos que deturpam o papel da mulher na sociedade. Exaltamos os triunfos de Odisseu e deixamos a história de Penélope sem respostas, Margaret Atwood nos dá estas respostas e expõe uma nova perspectiva dos fatos. Penélope, enquanto Odisseu aventurava-se no mar durante vinte anos, governou Ítaca, por vinte anos suportou a pressão de pretendentes em busca de atacar sua terra, viveu sozinha com o filho sem a certeza da volta do marido e no final, todo o crédito da perseverança do reino não foi lhe dado. Margaret Atwood nos coloca a pensar no papel ocultado da mulher pela sociedade e a necessidade da mudança desta.

Paralelo a história de Penélope, temos um coro composto pelas doze escravas que na obra da Odisseia foram mortas após o retorno de Odisseu a Ítaca por terem sido amantes dos pretendentes de Penélope, a autora denuncia de forma lírica o uso da força masculina como forma de dominação e frisa nestes abusos de forma consciente, nos fazendo refletir sobre o assunto.
Uma obra completamente fluida (eu mesma a li em apenas um dia) e técnica, é perceptível o cuidado que a autora teve em pesquisar cada acontecimento, que traz consigo um discurso completamente atual e essencial para nossa sociedade, nos coloca a refletir sobre nosso papel e de trazermos a mulher como forma primária aos acontecimentos cotidianos, darmos voz e papel principal a aquelas que sempre foram vistas como secundárias.

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