Para minha primeira publicação no
blog, nada mais justo do que iniciar com uma análise de uma autora que vem
ganhando muito espaço na minha estante e minha vida. Margaret Atwood. Todavia o
primeiro romance desta autora que escolhi, foge da atenção das obras mais
famosas já escritas por Atwood (em breve faremos resenhas também), porém se
mostra tão fabulosa quanto outras. A Odisseia de Penélope, nos dá uma nova
visão da tão famosa obra de Homero, que é a perspectiva feminina dos
acontecimentos.
Antes de iniciarmos nossa conversa
sobre a obra, preciso situar minha situação com a obra da Odisseia. Eu já havia
lido anos atrás e foi somente nas matérias da faculdade que dei maior atenção
para esta obra, uma vez lida com mais cuidado, muitas perguntas surgiram em
minha mente e ao ler a obra de Margaret Atwood, consegui encontrar certas
respostas. Uma das minhas questões era a vida de Penélope em Ítaca enquanto
Odisseu estava em alto-mar.
A obra conta a história de
Penélope, a esposa de Odisseu, príncipe de Ítaca, o enredo inicia-se no tempo
presente, com uma narradora que conta seus relatos passados e também se ligando
ao presente, a mesma nos dá o seu ponto de vista sobre a história contada por
Homero. A narradora, no caso a própria protagonista, não apenas nos dá seu
próprio ponto de vista na história, como também tece comentários sobre a sua
vida após a morte, temos então um novo meio de enxergar a história, logo nas
primeiras palavras da obra, Penélope mostra a necessidade de contar sua
história no presente momento, uma vez que se vê com maior liberdade de trazer
sua versão dos fatos.
Nos textos de Homero, Penélope é
representada pela figura da obediência feminina e a fidelidade, uma vez que
esperou por Odisseu por vinte anos, sua passagem mais famosa pela obra foi o
momento cujo teve a ideia de tecer uma tapeçaria que a noite era desfeita para
assim ganhar mais tempo, já que se via pressionada pelos pretendentes em Ítaca
que queriam tomar o lugar de Odisseu. Na obra de Atwood, temos uma nova versão
de Penélope, a astúcia e inteligência de Odisseu, também é representada em
Penélope, mostrando até ser um duplo do herói grego, Penélope tinha atributos
que transcendiam sua própria época – foi por essas razões que ela escolheu
contar sua história no presente momento – além de ter um ponto de vista irônico
e cheio de observações mordazes.
Ao ler “A Odisseia de Penélope” nos
deparamos com questões ainda muito presentes em nosso cotidiano quando tratamos
da mulher. A obra retrata a questão da mulher em meio a uma sociedade
patriarcal, a busca de espaço em um ambiente de limitações, a competição
feminina imposta por valores conservadores e a turva visão masculina dos
acontecimentos que deturpam o papel da mulher na sociedade. Exaltamos os
triunfos de Odisseu e deixamos a história de Penélope sem respostas, Margaret
Atwood nos dá estas respostas e expõe uma nova perspectiva dos fatos. Penélope,
enquanto Odisseu aventurava-se no mar durante vinte anos, governou Ítaca, por
vinte anos suportou a pressão de pretendentes em busca de atacar sua terra,
viveu sozinha com o filho sem a certeza da volta do marido e no final, todo o
crédito da perseverança do reino não foi lhe dado. Margaret Atwood nos coloca a
pensar no papel ocultado da mulher pela sociedade e a necessidade da mudança
desta.
Paralelo a história de Penélope,
temos um coro composto pelas doze escravas que na obra da Odisseia foram mortas
após o retorno de Odisseu a Ítaca por terem sido amantes dos pretendentes de
Penélope, a autora denuncia de forma lírica o uso da força masculina como forma
de dominação e frisa nestes abusos de forma consciente, nos fazendo refletir
sobre o assunto.
Uma obra completamente fluida (eu
mesma a li em apenas um dia) e técnica, é perceptível o cuidado que a autora
teve em pesquisar cada acontecimento, que traz consigo um discurso
completamente atual e essencial para nossa sociedade, nos coloca a refletir
sobre nosso papel e de trazermos a mulher como forma primária aos
acontecimentos cotidianos, darmos voz e papel principal a aquelas que sempre
foram vistas como secundárias.
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