sexta-feira, 1 de março de 2019

Uma viagem até A Montanha Mágica




Demorou, mas enfim terminei este livro e não me arrependo de ter demorado tanto na leitura, pois acredito que absorvi tudo que eu precisava e o desfecho excedeu minhas expectativas de uma forma grandiosa, não é à toa que estamos lidando com um grande clássico da literatura universal.

Sem entrar em muitos comentários agora – quero ao decorrer da análise, tecer vários – vamos começar com o início da história cujo é muito emblemática e cheia de significados. Temos a viagem de Hans Castorp sendo narrada, enquanto nosso protagonista percorre de trem as montanhas da Suécia, eu percorria a leitura de trem também, só que indo para o Espírito Santo, e então para mim as palavras foram mais tocantes, pois estava tendo as sensações do descobrimento das viagens na minha pele, assim como Hans Castorp. Não podemos deixar de citar a alegoria que este primeiro momento traz consigo, o percorrer de um caminho até seu destino final que envolverá tantas mudanças na vida do protagonista e que terão novos entendimentos à medida que o tempo passasse. O início se torna crucial na história, além de muito significativo.

Brevemente contarei do enredo, pelo motivo que assim como grandes obras literárias, ele é apenas uma peça da imensa miscelânea que circunda a história. Hans Castorp, um engenheiro recém-formado decide sair da Alemanha e partir para um sanatório em Davos com a finalidade de visitar brevemente seu primo Joachim. Desde o começo percebemos o status social cujo Hans Castorp possui e como isso influencia seu estilo de vida, sendo caracterizado por ser muito mais reservado e melancólico, a viagem até as montanhas de Davos era muito indicada pelos familiares, mesmo Hans Castorp não sendo enfermo. Uma vez presente no sanatório, Hans Castorp vai passando os dias e se adentrando ao cotidiano do lugar que a estadia de poucas semanas se torna uma internação e que resultará em sete anos no local, nas montanhas.

Quando tratamos de questões além do enredo, é muito importante tratar do livro como uma obra de contraste. Em todo momento vemos questões se contrapondo a outras em vários momentos, isso mostra a genialidade do autor em querer mostrar os momentos com inúmeras faces, trazendo um aspecto caleidoscópico a história. O ponto mais importante deste contraste seria a divisão feita na história entre o mundo de cima e o mundo de baixo. Temos um mundo do sanatório, absorto do mundo ali embaixo no qual passava por grandes mudanças, a forma no qual o sanatório se desliga do mundo exterior é muito interessante e bem debatidas a partir dos diálogos da história, como por exemplo os diálogos dos dois amigos de Hans Castorp, o Sr. Settembrini e Naphta, dois polos extremos que sempre se colidiam em diálogos profundos e acalorados.

Outro aspecto muito importante de destacar é a relação que a história possui entre a vida e a morte, vemos como estes dois pontos afetam a forma de ver o mundo dos personagens e como moldam suas escolhas e personalidades ao longo do tempo, a vida e a morte tornam-se personagens do sanatório uma vez que estão presentes na vida diária daqueles que ali vivem, mudando muito suas percepções, como por exemplo o amor, ele começa a ser visto de múltiplas maneiras a partir do que a vida traz para os personagens ali presentes.

Quanto aos personagens, possuímos inúmeros para serem caracterizados e vemos todos esses arcos se encaixarem com a vida de Hans Castorp e naquele cenário, Hans Castorp se torna um mero personagem diante a vida cotidiana, o narrador mostra que foi uma escolha banal o foco em sua vida uma vez que poderia ser qualquer um deles, temos vidas se encontrando e desencontrando sobre um certo contexto.

Não podia deixar de falar do narrador, pois achei muito peculiar a forma que ele retrata toda a história. Esqueci de frisar que sua visão onisciente sobre os fatos se ocorre por estar à frente do tempo no qual a história ocorreu, temos o período pré Primeira Guerra Mundial sendo fomentada e o narrador através de uma linguagem muito amistosa e até mesmo divertida, retrata como aquela sociedade europeia estava lidando com os acontecimentos, já sabendo o resultado dela no final, gerando o presente da narrativa. Um artifício muito bem elaborado e genial do autor. E falando do autor e sua linguagem, temos uma diferença bem grande entre suas obras, quando tratamos de “Morte em Veneza” – sua primeira história – temos um novo tipo de perspectiva em “A Montanha Mágica”, a linguagem e a forma foi mudada e mesmo assim a essência do autor não foi deixada de fora, somente grandes autores conseguem tal façanha e não é à toa que o trabalho de Thomas Mann o fez ser laureado com um Nobel de Literatura.

Não irei me estender mais do que já me estendi, este livro possui muitos pontos para discutir e poderia render muito mais palavras do que eu imaginava escrever, mas pararei por aqui enaltecendo este autor que mais uma vez rendeu uma leitura fabulosa! O final vale cada palavra descritiva durante as páginas, a trama é envolvente e bela e muitos momentos me vi refletindo sobre o que eu tinha acabado de ler como forma de eternizar aquelas palavras em mim, acredito que isto é ser perfeito em sua essência. Fica a minha dica, leiam Thomas Mann!

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

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