Demorou,
mas enfim terminei este livro e não me arrependo de ter demorado tanto na
leitura, pois acredito que absorvi tudo que eu precisava e o desfecho excedeu
minhas expectativas de uma forma grandiosa, não é à toa que estamos lidando com
um grande clássico da literatura universal.
Sem entrar
em muitos comentários agora – quero ao decorrer da análise, tecer vários –
vamos começar com o início da história cujo é muito emblemática e cheia de
significados. Temos a viagem de Hans Castorp sendo narrada, enquanto nosso
protagonista percorre de trem as montanhas da Suécia, eu percorria a leitura de
trem também, só que indo para o Espírito Santo, e então para mim as palavras
foram mais tocantes, pois estava tendo as sensações do descobrimento das
viagens na minha pele, assim como Hans Castorp. Não podemos deixar de citar a
alegoria que este primeiro momento traz consigo, o percorrer de um caminho até
seu destino final que envolverá tantas mudanças na vida do protagonista e que
terão novos entendimentos à medida que o tempo passasse. O início se torna
crucial na história, além de muito significativo.
Brevemente
contarei do enredo, pelo motivo que assim como grandes obras literárias, ele é
apenas uma peça da imensa miscelânea que circunda a história. Hans Castorp, um
engenheiro recém-formado decide sair da Alemanha e partir para um sanatório em
Davos com a finalidade de visitar brevemente seu primo Joachim. Desde o começo
percebemos o status social cujo Hans Castorp possui e como isso influencia seu
estilo de vida, sendo caracterizado por ser muito mais reservado e melancólico,
a viagem até as montanhas de Davos era muito indicada pelos familiares, mesmo
Hans Castorp não sendo enfermo. Uma vez presente no sanatório, Hans Castorp vai
passando os dias e se adentrando ao cotidiano do lugar que a estadia de poucas
semanas se torna uma internação e que resultará em sete anos no local, nas
montanhas.
Quando
tratamos de questões além do enredo, é muito importante tratar do livro como
uma obra de contraste. Em todo momento vemos questões se contrapondo a outras
em vários momentos, isso mostra a genialidade do autor em querer mostrar os
momentos com inúmeras faces, trazendo um aspecto caleidoscópico a história. O
ponto mais importante deste contraste seria a divisão feita na história entre o
mundo de cima e o mundo de baixo. Temos um mundo do sanatório, absorto do mundo
ali embaixo no qual passava por grandes mudanças, a forma no qual o sanatório
se desliga do mundo exterior é muito interessante e bem debatidas a partir dos
diálogos da história, como por exemplo os diálogos dos dois amigos de Hans
Castorp, o Sr. Settembrini e Naphta, dois polos extremos que sempre se colidiam
em diálogos profundos e acalorados.
Outro
aspecto muito importante de destacar é a relação que a história possui entre a
vida e a morte, vemos como estes dois pontos afetam a forma de ver o mundo dos
personagens e como moldam suas escolhas e personalidades ao longo do tempo, a
vida e a morte tornam-se personagens do sanatório uma vez que estão presentes
na vida diária daqueles que ali vivem, mudando muito suas percepções, como por
exemplo o amor, ele começa a ser visto de múltiplas maneiras a partir do que a
vida traz para os personagens ali presentes.
Quanto aos
personagens, possuímos inúmeros para serem caracterizados e vemos todos esses
arcos se encaixarem com a vida de Hans Castorp e naquele cenário, Hans Castorp
se torna um mero personagem diante a vida cotidiana, o narrador mostra que foi
uma escolha banal o foco em sua vida uma vez que poderia ser qualquer um deles,
temos vidas se encontrando e desencontrando sobre um certo contexto.
Não podia
deixar de falar do narrador, pois achei muito peculiar a forma que ele retrata
toda a história. Esqueci de frisar que sua visão onisciente sobre os fatos se
ocorre por estar à frente do tempo no qual a história ocorreu, temos o período
pré Primeira Guerra Mundial sendo fomentada e o narrador através de uma
linguagem muito amistosa e até mesmo divertida, retrata como aquela sociedade
europeia estava lidando com os acontecimentos, já sabendo o resultado dela no
final, gerando o presente da narrativa. Um artifício muito bem elaborado e
genial do autor. E falando do autor e sua linguagem, temos uma diferença bem
grande entre suas obras, quando tratamos de “Morte em Veneza” – sua primeira
história – temos um novo tipo de perspectiva em “A Montanha Mágica”, a
linguagem e a forma foi mudada e mesmo assim a essência do autor não foi
deixada de fora, somente grandes autores conseguem tal façanha e não é à toa
que o trabalho de Thomas Mann o fez ser laureado com um Nobel de Literatura.
Não irei me
estender mais do que já me estendi, este livro possui muitos pontos para
discutir e poderia render muito mais palavras do que eu imaginava escrever, mas
pararei por aqui enaltecendo este autor que mais uma vez rendeu uma leitura fabulosa!
O final vale cada palavra descritiva durante as páginas, a trama é envolvente e
bela e muitos momentos me vi refletindo sobre o que eu tinha acabado de ler
como forma de eternizar aquelas palavras em mim, acredito que isto é ser
perfeito em sua essência. Fica a minha dica, leiam Thomas Mann!
Com carinho,
Malu, a Traça dos Livros.
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