quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Análise: A valsa dos adeuses




Assumo, eu não sabia muito bem o que esperar deste livro, talvez eu tivesse medo de colocar muitas expectativas e me frustrar durante a leitura, mas posso dizer previamente que nada me decepcionou. Estou dizendo isso pois esta obra foi especialmente aquela obra que optei por ler devido ao autor. Quando falamos de Milan Kundera, temos “A insustentável leveza do ser” em mente – inclusive é uma obra que eu adorei terlido e que já tem análise no blog – então, já posso alertar a todos, este livro não é “A insustentável leveza do ser”.
Acho que para analisar a história, é preciso salientar o tema principal que constrói tudo que ali está escrito que é a misoginia. Definimos misoginia como a aversão ou desprezo as mulheres, ao longo da narrativa, vamos percebendo aspectos deste tipo de preconceito em ações dos personagens. Milan Kundera, em suas obras, sempre traz assuntos assim e fazem deles planos de fundo críticos muito bem sutis.

Para explicar melhor o conceito, é preciso situar o espaço que a narrativa se encontra. O enredo acontece em uma estação de águas, uma cidade que possui um balneário para tratamentos de saúde por meio de águas termais, nesse caso em especial, o tratamento mais procurado é feito pelo público feminino em busca da cura da infertilidade. Ou seja, a pequena cidade sempre está repleta de mulheres estrangeiras em busca da fertilidade e podemos dizer que isto não é muito de agrado do público feminino local que vê tais mulheres como intrusas de sua cidade, eis que temos um primeiro conflito sutil de misoginia que acontece entre as próprias mulheres.

Uma das enfermeiras desta estação termal é Ruzena, uma bela mulher que compartilha desta aversão pelas estrangeiras em busca de tratamento. Todavia, Ruzena está grávida, chega a ser controverso, em uma cidade que a maior busca é poder conceber, quem concebe é uma enfermeira local, mais uma vez temos o desprezo das mulheres sobre a tal moça. Este é o primeiro retrato que temos a história. Ruzena está supostamente grávida de Klima, um famoso trompetista casado, que se aventurou com a mulher por uma noite apenas. Ao descobrir sobre a gravidez, o mesmo tenta de todas as maneiras convencê-la a abortar. Temos aqui um homem que se acha na capacidade de opinar sobre uma decisão que deveria ser feita pela dona do próprio corpo, a mulher.

Outro panorama interessante de se abordar na narrativa é o arco sobre o personagem do médico ginecologista do local, o Dr. Skreta, um homem com métodos não tão ortodoxos assim para com suas pacientes desesperadas e em busca de terem filhos, podemos ver que nesse caso, o autor mais uma vez critica levemente as tomadas de decisões de um homem sobre um corpo feminino e nesse caso, sem tal conhecimento ou consentimento da mulher. Acredito e, ser algo complicado de se tratar ou expor.

O enredo possui outros arcos, cada capítulo chega a ser cinematográfico pois nos fornece visões de vários fatos e também certa simultaneidade, acredito ser comum na escrita do Kundera, consegui ver muito disso em sua estrutura narrativa. Não irei me atentar em descrever todos os arcos narrativos, pois acredito não ser completamente necessário, mas posso dizer que eles estão muito bem amarrados e no final da história temos tudo completamente ligado e muito bem finalizado a partir de um envenenamento, não darei detalhes para que a curiosidade de todos os leve a ler o livro.

É um bom livro e a leitura é muito bem fluida, mas não é aquela obra magnifica, é uma boa obra, temo que não o lerei novamente tão cedo, mas fica a indicação e a reflexão sobre certos assuntos.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

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