“Quanto aos museus, é uma autentica
dor na alma, de cortar o coração, toda aquela gente, gente, digo bem, todas
aquelas pinturas, todas aquelas esculturassem terem diante de si uma pessoa a
quem olhar. ” (Pág. 232)
Mais uma leitura finalizada e desta
vez sem fôlego algum, que livro, senhoras e senhores! Esse é um tipo de livro
que te transporta para dentro daquele universo, é perturbador, complexo e
arrebatador, você não consegue sair da leitura e não quer pará-la, quer ver o
desdobramento de toda a história. Vale cada página de leitura se quiser se aventurar
em algo tão denso como Saramago.
Fazendo um breve resumo da obra, a
literatura fantástica de Saramago trás para nós, leitor, uma epidemia
diferente. Um certo dia, as pessoas começaram a ficar cegas. Uma cegueira sem
precedentes e branca feito leite, nada sabia sobre seu início e muito menos que
proporção ela se tornaria. Nas primeiras semanas, os grupos que apresentavam
tal cegueira foram levados para uma espécie de manicômio para ficarem em
quarentena até que providencias pudessem ser tomadas e assim que nossa história
se desenvolve.
Não podemos falar dessa história
sem falar dos personagens, pois são eles que fazem tudo acontecer dentro da
obra. Um dos primeiros casos de cegueira foi um médico oftalmologista, ao ser
levado, sua esposa, de forma audaciosa se infiltra no manicômio junto de seu
marido, alegando também estar cega quando na verdade era a única do local que
conseguia enxergar. Eis o ponto principal – acredito eu – da história, a
responsabilidade de enxergar em um mundo de cegos.
A história, de forma completamente
fantástica, vai se desdobrando em muitas desgraças e momentos perturbadores, você
se envolve muito rapidamente na história que te promove sensações diversas. O livro
possui um estranhamento típico entre os leitores de Saramago que é a estrutura
única de pontuação, paragrafação, etc., mas para mim, esse estilo (novo, pois
foi meu primeiro Saramago lido) foi muito envolvente, outro ponto é a ausência de
nome nos personagens que são diferenciados pelas suas características, mas é
entendível aos poucos uma vez que estão cegos, não era preciso nomeá-los.
Não sei se vocês já assistiram ao
filme “Mother! ” Do Darren Aronofsky, mas o que eu senti assistindo esse filme
foi o mesmo de ler esse livro, é ficar preso a um mundo único e ao mesmo tempo
ficar sem folego por tudo que está ocorrendo. Preciso falar sobre a minha cena
favorita da história, o momento que a esposa do médico entra em uma igreja e
todas as imagens santas estão com vendas brancas, colocadas por alguém que ela supôs
ter perdido todas as esperanças e naquele momento ela se sente mais cega do que
todos mesmo enxergando, uma vez que ninguém pode vê-la. Achei genial.
É necessária uma leitura como essa
em momentos tão incertos como agora, que estamos vivendo, não uma cegueira biológica,
mas sim ideológica, política, cultural cujo aqueles que ainda podem “ver”
precisam acarretar responsabilidades e conseguimos enxergar o interior de cada
um, o verdadeiro eu das pessoas em momentos assim. “Algum desses cegos não são
apenas dos olhos, são cegos de entendimento. ” (pág. 213). Talvez o mundo
sempre esteve cego, e se a cegueira lhe convém, continue. Caso contrário, abra
os olhos.
“Falas como se também tu estivesses
cega, disse a rapariga dos óculos escuros, De uma certa maneira, é verdade,
estou cega da vossa cegueira...” (Pág. 283) #EleNão
Com carinho, Malu, a Traça dos
Livros.
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