segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Análise: Ensaio sobre a cegueira



“Quanto aos museus, é uma autentica dor na alma, de cortar o coração, toda aquela gente, gente, digo bem, todas aquelas pinturas, todas aquelas esculturassem terem diante de si uma pessoa a quem olhar. ” (Pág. 232)

Mais uma leitura finalizada e desta vez sem fôlego algum, que livro, senhoras e senhores! Esse é um tipo de livro que te transporta para dentro daquele universo, é perturbador, complexo e arrebatador, você não consegue sair da leitura e não quer pará-la, quer ver o desdobramento de toda a história. Vale cada página de leitura se quiser se aventurar em algo tão denso como Saramago.

Fazendo um breve resumo da obra, a literatura fantástica de Saramago trás para nós, leitor, uma epidemia diferente. Um certo dia, as pessoas começaram a ficar cegas. Uma cegueira sem precedentes e branca feito leite, nada sabia sobre seu início e muito menos que proporção ela se tornaria. Nas primeiras semanas, os grupos que apresentavam tal cegueira foram levados para uma espécie de manicômio para ficarem em quarentena até que providencias pudessem ser tomadas e assim que nossa história se desenvolve.

Não podemos falar dessa história sem falar dos personagens, pois são eles que fazem tudo acontecer dentro da obra. Um dos primeiros casos de cegueira foi um médico oftalmologista, ao ser levado, sua esposa, de forma audaciosa se infiltra no manicômio junto de seu marido, alegando também estar cega quando na verdade era a única do local que conseguia enxergar. Eis o ponto principal – acredito eu – da história, a responsabilidade de enxergar em um mundo de cegos.

A história, de forma completamente fantástica, vai se desdobrando em muitas desgraças e momentos perturbadores, você se envolve muito rapidamente na história que te promove sensações diversas. O livro possui um estranhamento típico entre os leitores de Saramago que é a estrutura única de pontuação, paragrafação, etc., mas para mim, esse estilo (novo, pois foi meu primeiro Saramago lido) foi muito envolvente, outro ponto é a ausência de nome nos personagens que são diferenciados pelas suas características, mas é entendível aos poucos uma vez que estão cegos, não era preciso nomeá-los.

Não sei se vocês já assistiram ao filme “Mother! ” Do Darren Aronofsky, mas o que eu senti assistindo esse filme foi o mesmo de ler esse livro, é ficar preso a um mundo único e ao mesmo tempo ficar sem folego por tudo que está ocorrendo. Preciso falar sobre a minha cena favorita da história, o momento que a esposa do médico entra em uma igreja e todas as imagens santas estão com vendas brancas, colocadas por alguém que ela supôs ter perdido todas as esperanças e naquele momento ela se sente mais cega do que todos mesmo enxergando, uma vez que ninguém pode vê-la. Achei genial.

É necessária uma leitura como essa em momentos tão incertos como agora, que estamos vivendo, não uma cegueira biológica, mas sim ideológica, política, cultural cujo aqueles que ainda podem “ver” precisam acarretar responsabilidades e conseguimos enxergar o interior de cada um, o verdadeiro eu das pessoas em momentos assim. “Algum desses cegos não são apenas dos olhos, são cegos de entendimento. ” (pág. 213). Talvez o mundo sempre esteve cego, e se a cegueira lhe convém, continue. Caso contrário, abra os olhos.

“Falas como se também tu estivesses cega, disse a rapariga dos óculos escuros, De uma certa maneira, é verdade, estou cega da vossa cegueira...” (Pág. 283) #EleNão

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

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