Eu particularmente sempre tive
muita vontade de ler esse livro e nunca encontrava um exemplar, eis que o dia
chegou e em minhas mãos comecei a ler, foi incrível a experiência que em nenhum
momento me decepcionou, só me dava mais vontade de ler, não foi à toa que acabei
em dois dias. Para iniciar minha leitura de Thomas Mann, um autor laureado com
um Nobel de Literatura, esse livro foi muito satisfatório.
Esse livro é tão incrível que não
estou sabendo bem como começar a abordar tudo que quero nesse post do blog. Primeiramente,
temos um narrador muito descritivo contando a história de Gustav Von Aschenbach,
um escritor famoso e que busca nova inspiração para sua nova obra, uma vez que
se vê sem motivações. Durante um passeio de trem em Munique, Aschenbach se
depara com uma figura estranha e horrenda que o faz refletir sobre sua estadia
na cidade e conclui que deveria procurar um outro lugar para se inspirar. Veneza.
Veneza, uma cidade toda bela e
poética e que ao mesmo tempo é pútrida e doente, um contraste de sensações no
mesmo espaço. Temos aqui uma definição proposta por Nietzche, cujo Thomas Mann
se inspira ao construir a narrativa, o domínio de dois tópicos completamente
opostos dentro da arte, o apolíneo e o dionisíaco. O apolíneo é mais voltado a
razão, sobriedade e retidão, enquanto o dionisíaco explora a sensibilidade, emoção
e movimento. Vamos perceber que ao longo da história o contraste dessas duas
formas será apresentado ao decorrer do enredo, uma figura dionisíaca sobrepondo-se
a uma figura apolínea.
Já que estamos falando de Veneza, é
necessário falarmos do título, “Morte em Veneza” já deixa mais do que explícito
o que irá acontecer durante a história e temos nessa narrativa vários prenúncios
de morte. São figuras que irão representar a morte ao decorrer do livro,
podemos perceber isso na figura do homem horrendo no trem de Munique e também
na chegada de Aschenbach em Veneza – retomando a história – na figura de um barqueiro
que trazia consigo um aspecto fúnebre dentro de sua gondola, podemos dizer que
o mesmo poderia ser uma representação de Caronte, o barqueiro do inferno de
Hades. Temos um diálogo entre eles cheio de subliminaridades e um clima denso,
realmente um prenúncio de morte. E ao longo do enredo, outros mensageiros da
morte irão aparecer.
“- Quanto cobra pela viagem?
Olhando por cima dele, o gondoleiro
respondeu:
- O senhor pagará. ” (Pág.112)
Não pode ser deixado de falar do
encontro mais marcante dessa história, o encontro de Aschenbach e Tadzio. Um jovem
de quatorze anos extremamente belo, tão belo e perfeito a ponto de fazer
Aschenbach se apaixonar perdidamente, uma forma platônica de amor, beirando ao
homoerótico que fez de tal ficção a inspiração para o autor escrever. Tadzio é
a representação do belo e irracional (dionisíaco) se encontrando com o estável
e racional presente em Aschenbach (apolíneo). Essa forma platônica de amar
trará uma transformação na forma de viver do escritor que começará a modificar
certos hábitos teus e de certa forma, perseguir tal menino como que se sua vida
dependesse disso. O ponto de tal obsessão é tanto que temos um diálogo de
Platão e Fedro transcrito na história, no sonho de Aschenbach como
representação do platonismo romântico dentro desta relação.
“ ‘Não deve sorrir assim! Ouça, não
seve sorrir assim para ninguém! ’ Atirou-se sobre um banco, respirou indignado
o perfume noturno das plantas. E, inclinado para trás, de braços pendentes,
dominado e sentindo-se percorrido por arrepios, murmurou a eterna fórmula do
anseio – aqui impossível, absurdo, abjeto, ridículo e, no entanto, sagrado,
digno mesmo, ainda aqui: ‘Eu te amo! ’” (Pág. 145).
Como já havia dito anteriormente, a
morte está presente em todos os momentos da narrativa, uma epidemia de cólera
assombra Veneza e junto com sua loucura por Tadzio, temos o protagonista
sucumbido por tudo isso em um desfecho cru, mas preciso, somos envolvidos tão
bem sobre esta escrita descritiva e musicalizada que um vazio existencial
ocorreu após terminar de ler a última linha. Com certeza irei ler outros livros
do Thomas Mann em breve, assim que conseguir ter algum em mãos e indico também
o vídeo do programa “Literatura Fundamental” sobre este livro, traz discussões
incríveis e que te fazem querer ler mais sobre este autor. Incrível!
“A felicidade do literato é o
pensamento que é todo o sentimento; é o sentimento que consegue tornar-se todo pensamento.
” (Pág. 138)
Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.
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