terça-feira, 2 de outubro de 2018

Análise: Grandes Esperanças



Chega a ser difícil saber por onde começar a análise desta obra, realmente, não é à toa Grandes Esperanças ser considerado o Magnum oppus de Charles Dickens, e nada como começar um desafio literário com um livro que, com certeza, irei levar por toda minha vida.
Ano passado – quase que na mesma época – eu li “Oliver Twist”, um título muito conhecido do autor. Tive impressões muito positivas, mas também muitas dúvidas, pareceu-me que o estilo de Dickens não tinha sido compreendido por mim naquela leitura, mas a vontade de continuar lendo obras dele persistiu e chegou o dia que um novo livro dele surgiu em minha vida. Comecei um novo desafio literário sobre literatura inglesa, para me engajar mais e foi gratificante iniciar com este livro magnífico.

Então vamos a história, o que o autor trabalha sobre todo o arco do romance é a questão da redenção moral, e é a partir disto que discutiremos toda a história. Grandes Esperanças apresenta um narrador contando suas memórias da vida jovem, o narrador conta sua própria trajetória, a trajetória de Pip. Um garoto órfão que vivia em Essex junto de sua irmã mais velha e seu cunhado, um ferreiro, fadado a viver aquela vida dura como aprendiz e tudo começa a se agitar a partir do seu encontro com Magwtich, um fugitivo da prisão cujo Pip presta auxílio. A partir dali grandes expectativas vão rodear o menino.

Pip era um menino muito sofrido e humilde, junto com seu cunhado, Joe Gargery, tinha uma grande amizade e sabia que seguiria a profissão dele. Naquela época, uma mulher começa a pedir os serviços de Pip para entretê-la com uma brincadeira de criança, esta era a Sra. Havisham, uma mulher fina e rica, mas ao mesmo tempo muito complexa e amarga. Com ela, vivia Estella, uma garota que foi agraciada com a adoção e que foi a grande amor de Pip desde o primeiro momento. Todavia, Stella se mostra ser o pior tipo de pessoa, uma menina completamente mesquinha e esnobe, moldada para ser fina e detestável.

Este contato com a fina família da Sra. Havisham começa a despertar muita vergonha de Pip sobre si mesmo e suas condições, por muitos momentos ele é rebaixado e o próprio se coloca nessa posição muitas vezes, assim, começa dentro de si criar um desejo de não seguir o que o destino lhe estava guardado. Eis que grandes esperanças aparecem sobre ele, um senhor anônimo lhe concede sua fortuna para que ele se torne um cavalheiro, assim toda sua antiga vida seria deixada para trás e ele viveria em Londres, com as condições necessárias para se transformar em um ser da elite.

Em Londres, temos a gradativa decadência moral de Pip. Envergonhado pelo seu passado e pelas pessoas que viviam neste passado, a busca de subir na vida que gerou inúmeras dívidas e seu amor completamente despedaçado pela maldosa Estella. Mesmo criando laços com amigos honestos, Pip se vê em Londres completamente perdido, o meio o modifica e temos seus valores colocados a prova e suas esperanças sendo perdidas. Vemos que Dickens colocou o espaço como um fator de corrosão dos personagens, o meio fez eles sucumbirem à degradação, um dos tons críticos do autor que passam despercebidos as vezes.

Já na terceira parte do livro, a redenção começa a ocorrer não apenas com ele, mas com muitos personagens como a Sra. Havisham que percebeu que toda a frieza que criou Stella não levou a nada, nem mesmo sua própria mãe adotiva ela conseguia amar, mas no final conseguiu reconciliar com sua família que tanto criticou. Ou Magwtich, que foi de fugitivo da prisão para trabalhador e pagou seus pendentes a sociedade com sua reconciliação e amor de Pip, que esteve com ele até o último minuto. E além disso, Pip também teve sua redenção, desistindo da vida de cavalheiro, ele se tornou um caixeiro viajante e passou o resto de sua vida viajando pelo mundo, retomou laços com Joe e Biddy, amigos fieis até o fim e que Pip se recusava a enxergar e no final temos o seu reencontro com Estella, uma mulher completamente sofrida e arrependida pelo seu passado, todavia não sendo mais possível a reconciliação dos dois, ambos seguem caminhos diferentes.

Dickens nessa obra, traz o mais íntimo do ser humano em cada personagem e constrói um processo – como já dizemos antes – de redenção moral para cada um deles. Temos personagens completamente humanos, pois possuem sentimentos controversos, divididos entre a ingratidão e bondade, corrompidos e arrependidos pelas escolhas que geram um resultado futuro, mas no caminho da evolução. São questões inerentes ao ser humano e que são muito bem tratadas na narrativa nos causando muitas reflexões e até mesmo identificação, será que a busca movida pela ambição realmente vale a pena? A jornada humana é mesmo muito complexa.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

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