sábado, 28 de setembro de 2019

Carolina e Maria de Jesus




Para voltar a escrever, eu tinha que ter um bom motivo e nesse mundo tão complicado, me parecia difícil achar esta faísca que me fizesse voltar a ser a mesma Traça, cheia de alegria e histórias para contar. Todavia, este dia chegou uma tenho um motivo muito especial para compartilhar com vocês, este motivo é uma história de duas mulheres que de certa forma, estão unidas na minha vida, e engraçado ou não, ambas possuem os mesmos nomes, a primeira é Carolina Maria de Jesus, a escritora e Maria de Jesus Ribeiro da Silva, minha avó.
Ao contrário de mim, Traça dos Livros, minha vó não lê muito, é um hobby muito quieto para ela, minha vó é muito mais aquela pessoa que não para, que faz muitas coisas em casa e sempre com o rádio ligado para se divertir, um tipo de mulher que um dia está na cozinha e no outro está em Paris. Minha vó teve uma vida difícil e cheia de histórias de superação (que na verdade dariam um bom livro), e os livros não estiveram neste plano principal, mas, com muito orgulho, minha vó fala com todas as letras que o livro que ela conseguiu completar uma leitura foi “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus.
Minha vó ganhou este livro na década de 1970, minha vó conhecia a história e ficou interessada, um dia conversando com um amigo de meu avô sobre o livro, o mesmo disse ter o livro e lhe deu de presente seu exemplar e foi então que a história das duas se uniram para sempre. Que maravilha ter orgulho de ler um livro desses!
Porém, onde eu entro nessa história? Bem, quando eu passei no curso de letras, na Universidade Federal de São Carlos, acabei descobrindo que a mesma autora era homenageada pelo Centro Acadêmico da instituição e comentando com a minha avó sobre isso, foi quando ela me deu seu livro e a história das duas chegaram até mim. Aqui está comigo, um dos primeiros pertences que levei para minha nova casa, guardado como tesouro de alto valor, um exemplar da primeira edição da década de 1960, ano da primeira publicação do “Quarto de Despejo”.
Hoje, estou lendo o livro para uma matéria da graduação, mas o exemplar ainda permanece comigo, guardado com todo o cuidado existente neste mundo. Não é apenas um livro maravilhoso, mas é ainda mais maravilhoso esse sentimento de ter uma história por trás de outra história em um livro que tem muito mais anos do que eu tenho de vida, ele pode estar um pouco deteriorado pelo tempo, por isso não gosto muito de manuseá-lo toda hora e ainda não tenho coragem de levar para alguém restaurar, mas as histórias estão ali, estão em mim, em minha vó, em todas as pessoas que perpetuam o nome de Carolina Maria de Jesus ao mundo, pois precisamos que cada vez mais esses livros cheguem nas pessoas e as toquem com sua delicadeza.
     E são nesses momentos em que penso.... Que dádiva poder ter um livro consigo, com ele, a história nunca acaba, ela se transforma.
Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Análise: A Imortalidade



“Penso, logo existo é uma afirmação de um intelectual que subestima as dores de dente. Sinto, logo existo é uma verdade de alcance muito mais amplo e que concerne a todo ser vivo. Meu eu, não se distingue essencialmente do seu eu pelo pensamento. ” (Pág.112)
E é com essa linda citação que começo mais uma análise da minha última leitura dos meus últimos dias de férias, mais uma vez, me aventurei na escrita de Milan Kundera e escolhi “A Imortalidade” para contemplar. 

Essa obra tem uma premissa maravilhosa, ela é complexa, mas muito bem trabalhada, porém um pouco perdida no caminho, mas ela consegue encerrar bem, devido tal complexidade era de se esperar que alguma ponta se soltasse, mas o livro é muito intrigante. É mais do que óbvio que certos autores possuem uma fórmula ou padrão ao escrever seus livros, acho que todo mundo está careca de saber que isso existe e Milan Kundera pode explorar vários temas, mas uma essência vai sempre aparecer e vou explicar bem qual essência é essa.

Para explicar tudo isso, preciso começar – redundantemente – pelo começo, temos nosso autor como narrador de todo o enredo, observando uma mulher nadando no clube, a partir de então ele cria uma história toda sobre sua vida e a partir desta primeira premissa começamos a história, Kundera lhe dá um nome, sentimentos, uma vida, uma família e uma história envolvente e a partir disso sua fórmula aparece. As histórias cruzadas. Se você já leu “A insustentável leveza do ser” ou qualquer outro livro do Kundera você perceberá que sempre haverá histórias se cruzando na história e esse livro não deixou isso para trás.

Paralelamente a esta história temos a questão da imortalidade sendo colocada em reflexão, e não dá para ligar imortalidade sem a palavra morte, mas Kundera atrela essas duas questões de uma forma diferente, ao invés da imortalidade ser definida pela não morte, a imortalidade para Kundera só existe após a morte, quando a pessoa mesmo após sua morte continua sendo lembrada com o mesmo prestigio ou mais quando vivo. Ele usa a figura de Goethe como exemplo disso, tem um momento muito interessante no qual no panteão da imortalidade, Goethe e Hemingway dialogam sobre esse tema e achei particularmente genial a ideia e muito bem construída e de um jeito muito peculiar, esse cenário se cruza com as outras histórias.

Se estamos falando de histórias de Milan Kundera era óbvio que iria ter aquelas paixões complicadas, controversas, aquele amor muito reflexivo e até mesmo destrutivo entre os personagens. Somos levados a inúmeros momentos de fluxo de consciência (coisa que eu amo!) Acerca de todos os temas possíveis e de momentos possíveis, acho que um dos momentos que mais gostei de ler na história é um trecho no qual o personagem Paul está almoçando com Brigite, sua filha, sobre cultura e Paul tira a conclusão frustrante que a cultura de sua filha é totalmente limitada ao senso comum ou as modas ditadas na vida real, o mesmo começa a recordar de sua juventude e de sua grande adoração por Rimbaud e ao mesmo tempo se vê frustrado com o repertório de sua filha, alegando não ter sido um bom pai para deixar tudo aquilo conhecer, é bem interessante a forma como tudo é construído.

Claro, devemos dizer que existe falhas, para mim, as duas últimas partes são completamente avulsas a história, a sexta parte é algo muito fora de mão e complicado de entender pois nos dá uma nova história paralela que se inicia e termina na mesma parte, enquanto a sétima e última parte é uma tentativa de fechar algumas pontas no qual não precisavam ser retomadas, se tudo tivesse acabado na quinta parte acho que o choque seria muito melhor e daria mais impacto ao livro, mas isso é minha humilde opinião que não vale tanto assim, ou nem valha nada, mas achei que as últimas partes deixaram a desejar.

Não posso deixar de comentar sobre um trecho no qual o próprio Kundera aparece na história junto de alguns personagens e comenta sobre estar escrevendo “A insustentável leveza do ser”, suspeito que a tal fórmula do Kundera cria paralelos entre suas histórias, mas para isso ser melhor compreendido e comprovado eu precisaria me aprofundar mais nas suas obras e acho que isso pode ser deixado para um futuro mais longe, mas fica minha indicação de uma história intrigante.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Análise: Oryx e Crake

Dessa vez não teve uma foto bonitinha do Instagram, pois eu li online kkkk


Nossa, estava entusiasmada para vir comentar com vocês sobre minha nova leitura e dessa vez escolhi – mais uma – distopia. Não irei me estender sobre a definição do que se trata uma distopia, pois acredito que já devem saber do que se trata e já havia dito em leituras anteriores sobre isso, e pelo o que me parece, a distopia e o nome de Margaret Atwood estão bem atrelados ultimamente. Minha opinião sobre a autora é complexa, admiro muito seu trabalho e sua personalidade, mas não acho que seja algo tão fenomenal assim e vejo ainda muito apelo comercial e uma literatura mais massificada, teci críticas duras ao “Conto da Aia”, mas decidi dar uma nova chance para essa nova distopia que me aparecia na leitura de “Oryx e Crake”, já posso dizer que o saldo foi um pouco mais positivo.

Desta vez temos uma distopia bem diferente do “Conto da Aia”, dessa vez ela se vem através da biotecnologia, com ares de “Admirável Mundo Novo”, a história nos apresenta o Homens das Neves, vulgo Jimmy, um dos últimos seres humanos vivo em um mundo pós-apocalíptico no qual os genes dos seres humanos e dos animais se tornaram híbridos e criados em laboratórios, a terra foi assolada por catástrofes e doenças e inúmeros animais mutantes surgiram com o avanço de tecnologias e Jimmy tenta sobreviver àquele ambiente hostil com os recursos possíveis e com suas memórias do passado na intenção de entender tudo que houve para o resultado final ser isso.

A história não é linear, então temos capítulos e mais capítulos com flashbacks e digressões do protagonista enquanto entendemos o que realmente aconteceu nesse mundo distópico, na verdade tudo é muito bem remendado ao ponto de no final conseguirmos compreender o que houve e o papel de Jimmy em toda a história, vemos que ele não passa de um instrumento em meio ao caos e como um observador de todos os atos, temos um panorama completo e reflexões sobre tudo aquilo, posso dizer que nesse livro, Margaret Atwood, além de saber atar os fatos com muito êxito, nos trouxe aspectos muito mais aprimorados acerca da distopia, mas também em questões inerentes ao ser humano, como a esperança, a dor, o conformismo (guardem bem esta palavra), a perda, dentre outros.

Mas agora vem a pergunta, quem é Oryx e quem é Crake? Eles são peças principais desta trama o que faz Jimmy ser um instrumento de reflexão ainda mais poderoso. Primeiro falaremos de Oryx, o grande amor de Jimmy, a figura idealizada da mulher cujo traz a paz e tranquilidade ao coração do protagonista, mas também é um agente do caos muito importante, uma vez que o clímax só poderia acontecer com a presença dela. Oryx carrega em si um passado completamente sombrio e abusivo, porém a mesma nunca se coloca em um papel de vítima, pelo contrário, ela traz uma carga de conformismo enorme no qual Jimmy não consegue compreender e este mesmo conformismo dela em qualquer tipo de condição se tornou sua própria ruína e a ruína dos outros.

Agora falaremos de Crake, o amigo de infância de Jimmy, aquele sempre visto como o mais inteligente ou o melhor ou com menos problemas que Jimmy, é colocado nele certo posto de admiração pelo protagonista e ele é realmente, literalmente o responsável pelo caos e tem total consciência disso, ele realmente quer isso, movido pela ganância ou um bem maior no qual foi possuído ao longo dos anos. Ambos os personagens são fascinantes e mais ainda, são muito opostos a Jimmy, enquanto Oryx e Crake carregam em si um conformismo extremo sobre a condição – podemos dizer - desumana da humanidade, Jimmy ainda carregava esperanças e questionamentos que no final acabam caindo por terra uma vez que ele se vê sem saída nesse tal mundo, podemos dizer que nesse caso, o antagonismo “venceu”.

Finalizando com minha opinião pessoal (mesmo sabendo que ela não vale tanta coisa), o livro é muito bom e dá gosto de ler, chega a ser instigante a leitura além de muito bem estruturada, todavia, não vou dizer que é perfeita, possui falhas e possui certo apelo comercial para a venda massiva, porém vale a pena a leitura, possui reflexões e ideias bem inteligentes e que me fez em poucos dias encerrar a leitura com certa satisfação. A minha segunda chance a Margaret Atwood rendeu um bom fruto.

Com carinho, malu, a Traça dos Livros.

sábado, 20 de julho de 2019

Se reencontrar com Mulheres que correm com os lobos



Estou cansada de falar em como meu semestre foi exaustivo, mas em meio dele encontrei esse tesouro que já falarei logo, é uma leitura indispensável para qualquer mulher, não importa a idade, é necessário ler este livro para poder se reconhecer como uma figura feminina.

Clarissa Pinkola Estés, neste livro, se denomina como uma contadora de histórias e em cada capítulo vai trazendo conhecimentos passados e culturais advindos de lendas e histórias que exploram o arquétipo da mulher selvagem. Cada capítulo um novo tema envolvendo o ser feminino é tratado e refletido, unido a lendas de inúmeras culturas que legitimam ainda mais o arquétipo feminino como um ser livre e selvagem.

Este livro é algo que ao mesmo tempo é necessário de ler, não deve ser lido com pressa ou rapidamente, aproveite cada página, cada palavra, tire reflexão de tudo, pois é um livro muito profundo e que mexe conosco, nos leva a pensar em como somos no mundo e como o mundo quer que sejamos. A autora fala muito sobre um saber ancestral, um espírito nato a ser despertado e ele realmente desperta isso em nós, algo ancestral e único floresce em nós, por isso é tão importante ler.

Enquanto eu lia, descobri que este é um dos livros que a Emma Watson recomenda em sua campanha sobre leitura feminista e me senti muito familiarizada após isso, depois soube que minha mãe e suas amigas também leram e recomendei a várias amigas também, mais para frente li um artigo cujo dizia que este livro é “para mães lerem e passarem para as filhas e assim por diante”, algo que legitima e fortalece ainda mais a herança cultural e ancestral da persona feminina.

Eu falarei brevemente, pois deixarei a leitura para vocês, pois cada um terá uma parte favorita e algo que lhe tocará mais, no meu caso, foi o contato da mulher com a terra que me chamou mais a atenção e me comoveu mais, nós mulheres temos uma relação com a terra e a natureza muito pessoal nossa e este tema me comoveu por estar longe d casa, parece que ao ler o lar ficou perto outra vez e me senti conectada a natureza novamente, nessas férias foi um dos planos que eu tinha em mente graças ao livro, estar mais na natureza.

Portanto, leiam mulheres! Encontrem a parte que mais a tocará, viva cada experiência e não deixe de mostrar a outras mulheres esta grande maravilha, pois merece cada palavra e cada página! Deixarei uma frase do livro para dar um gostinho especial a vocês:

“A loba, a velha, aquela que sabe está dentro de nós. Floresce na mais profunda psique da alma das mulheres, a antiga e vital Mulher Selvagem. Ela descreve seu lar como um lugar no tempo em que o espírito das mulheres e o espírito dos lobos entram em contato. É o ponto em que o Eu e o Você se beijam, o lugar em que as mulheres correm com os lobos (…)”

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

domingo, 14 de julho de 2019

As leituras do semestre universitário




Parecia ser infinito, mas acabou e enfim posso me declarar de férias e com 50% da minha graduação concluída, na verdade ainda não dá para acreditar muito bem nisso, pois parece que foi ontem que entrei na universidade. Todavia, posso garantir que estes foram um dos semestres mais complicados que já tive e que foi um dos fatores de minha ausência da Traça, mas isso não quer dizer que não houve leituras, teve sim! Mas leituras universitárias que venho compartilhar com vocês e tecer rápidos comentários sobre... vamos lá!

A primeira matéria que vou comentar é a matéria de Literatura Portuguesa que teve três leituras:

  • A queda dum anjo (Camilo Castelo Branco)

Posso dizer com tranquilidade que não me agradou muito ler este livro. É uma narrativa cansativa, uma história que não prende e uma leitura que te cansa. Tive o sentimento que quanto mais eu lia, mais nada acontecia, foi difícil. Porém a aula sobre o livro foi muito mais proveitosa!

  • Alves e cia (Eça de Queiroz)

Assumo que eu tinha certo receio em ler Eça de Queiroz pelo alto teor descritivo que ele apresenta e achava que teria muita dificuldade, assim como tive com o livro do Camilo Castelo Branco. Porém eu fui enganada, a leitora foi bem proveitosa e eu gostei muito! Foi uma ótima leitura, o tema era normal, mas a forma como o enredo foi tratado chegava a ter um tom humorístico com uma crítica por trás, foi muito gostoso ler, eu posso dizer que me diverti com o romance.

  • O marido virgem (Alfredo Gallis)

Parece que foi um crescente, comecei não gostando tanto da primeira leitura, a segunda gostei mais e a terceira eu adorei! Sim! Este romance é ótimo e vou recomendar sempre, é divertido, é proveitoso e além do mais dá gosto de ler algo assim. Eu adorei, vários momentos me vi rindo ou concordando com os fatos, o autor possui uma ironia mordaz e uma linguagem envolvente. Nossa, eu recomendo muito lerem este romance!

Agora mudamos um pouco o foco e vamos de Literatura brasileira no período moderno, nessa matéria houve maior carga de litura, mas foi tão bom quanto!

  • Paulicéia desvairada (Mário de Andrade)

A figura do Mário de Andrade é muito emblemática e este livro de poemas é a concretização disso, conseguimos perceber toda a sua proposta literária nos versos completamente vanguardistas. É uma obra bem interessante.

  • Macunaíma (Mário de Andrade)

Difícil falar desse livro, eu reconheço sua importância, mas meu Deus! Que porre! Nossa, foi complicado ler este livro, muitos momentos eu não entendia e retornava e não entendia mais ainda. É uma miscelânea mesmo e completamente conceitual, as vezes foi difícil para mim compreender tal conceito, eu sou humana. Não tiro o crédito pois sei que existe uma grande importância na obra, mas acho que vai demorar para eu ler outra vez.

  • Contos novos (Mário de Andrade)

De todas as obras do Mário de Andrade, sem dúvidas essa foi a que mais gostei! São contos que vou levar pela minha vida sempre, especialmente o conto “O peru de natal”, tantas reflexões e pensamentos foram despertados enquanto eu lia o livro. Vale muito a pena a leitura, é algo belo, simples e sublime, cada palavra possui significados tão incríveis que juntos é indescritível a experiência.

  • Pau-Brasil (Oswald de Andrade)

Outra coletânea de poemas muito vanguardistas e muito interessantes, este livro é aquela leitura tranquila, boa e que te entretém de uma forma única. Fora isso, temos que levar em consideração todo o contexto e proposta por trás dela que é incrível, você consegue perceber a materialização da teoria, isso é muito interessante.

  • Memórias sentimentais de João Miramar (Oswald de Andrade)

Esse livro é interessante, se você procura ler algo um pouco experimental eu o recomendo, é uma leitura fluida e bonita, mesmo tão fragmentada você consegue entender o enredo e se envolver na linguagem. Já que falamos de obras conceituais, este conceito me agradou mais e eu consegui entende-lo, posso dizer.

  • O rei da vela (Oswald de Andrade)

Mordaz, forte e ao mesmo tempo tão atual que chegava a me chocar! Todas aquelas críticas tão bem colocadas e aquele tom feroz acerca de um tema como aquele faz com que você reflita muito. Aliás, é triste ver que nada mudou desde então.

  • Libertinagem (Manuel Bandeira)

Sabe aqueles versos e poemas que sempre cruzam seu caminho de certa forma e sempre se encaixam com você? Isso que acontece comigo e com Manuel Bandeira, as vezes brinco que ele escreveu alguns poemas para mim pois conseguem captar minha essência e “Libertinagem” é a reunião desses poemas, é claro, posso dizer que Manuel Bandeira é um dos meus poetas favoritos se não for o meu favorito! (Talvez ele e Walt Whitman). Menções honrosas para estes poemas cujo indico fortemente: Evocação de Recife e Poética (um dos meus poemas favoritos)

  • O sentimento do mundo (Carlos Drummond de Andrade)

O que falar de Carlos Drummond de Andrade? Só o nome vale por tudo e “O sentimento do mundo” é a prova viva disso, cada poema é tão belo, tão pessoal, tão cativante. Acho que este livro deve ser lido por cada ser humano para seu bem próprio, pois é maravilhoso, não tenho muito o que dizer, acho que o nome de Drummond fala por si.

  • A rosa do povo (Carlos Drummond de Andrade)

Enquanto “O sentimento do mundo” é algo muito mais vasto, “A rosa do povo” é muito mais tocante, essa é a intenção, de tocar seu pessoal, fazer refletir e tentar nos fazer pessoas melhores. É algo nobre demais.

  • Vidas secas (Graciliano Ramos)

O último, mas não o menor, pelo contrário, essa história está na nossa cultura muito enraizada e eu tenho certeza que muitos de vocês mesmo sem ler o livro sabem um pouco da história ou pelo menos conhece a Baleia, figura tão característica. É uma história tão bela, mas tão sofrida, nossa... vou usar as palavras de minha professora, o título faz a vez de toda a essência da história, é seco, é sofrido e te faz refletir demais.

Um semestre de altos e baixos, mas concluído e que venham mais leituras dentro e fora do contexto universitário.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.


domingo, 30 de junho de 2019

Análise: A Lentidão



Eu não sei como começar, pois me senti muito envergonhada por ter sumido por todo esse tempo, a resposta deste intervalo é simples: faculdade! Esse semestre muitas coisas aconteceram, muitos ciclos foram fechados, muitas leituras foram obrigatórias e a Traça - infelizmente - foi deixada de lado, mas nunca esquecida! Em meio a rotina caótica ainda planejava escrever e hoje sinto um alívio por poder compartilhar algumas palavras com todos vocês.

Muito do meu tempo foi tomado, mas a alma de uma Traça não se deixar levar tão facilmente e consegui ler um romance diferente das minhas leituras obrigatórias e posso dizer que foi uma válvula de escape muito precisa naquele momento, não via a hora de compartilhar com vocês, e em meio da minha lentidão venho compartilhar com todos a minha experiência com "A Lentidão" de Milan Kundera, irônico não?

Eu já havia lido livros do Milan Kundera anteriormente, vocês sabem que "A insustentável leveza do ser" é o livro da minha vida e nunca me canso de falar sobre isso, minha experiência com Kundera sempre foi bem satisfatória e gosto bastante do estilo em que ele se debruça ao escrever, os capítulos breves, as questões inerentes ao ser humano, os relacionamentos não tão convencionais e os encontros e desencontros que seus personagens realizam ao decorrer da história. "A Lentidão" nos proporciona tudo isso em um tamanho reduzido em páginas, mas em grandiosidade em conteúdo.

Primeiramente, temos o próprio autor narrando uma viagem com sua esposa até um castelo na França que supostamente foi o castelo de Madame de Tourvel, a personagem conhecida do romance de Chordelos de Laclos, "As Relações Perigosas" (vocês sabem do sentimento bittersweet que possuo com esta história) , então já temos uma intertextualidade muito enriquecida logo no começo, fazendo com que o espaço seja um principal elo em todas as histórias que vão passar por lá. A partir desta intertextualidade, o autor começa a refletir sobre como o tempo era muito menos caótico nas épocas de Madame de Tourvel naquele castelo do que são hoje. Acredito que esta é a principal reflexão da história, a reflexão da lentidão do tempo ao decorrer das épocas e em como nosso cotidiano é tão acelerado devido a modernidade que perdemos a essência de admirar e perceber o mundo com mais atenção e ternura, as relações eram diferentes e o tempo era muito mais bem aproveitado. 

É necessário falar que outras histórias se cruzam naquele castelo, outros personagens nos são apresentados e com eles suas questões pessoais, mas a velocidade ainda é uma reflexão de todos durante sua estádia, logo, vemos que o autor consegue colocar uma temática muito bem estruturada e que vemos sua concretização a partir de uma reflexão chamada pelo autor como "uma equação bem conhecida `do manual da matemática existencial" 

"O grau de lentidão é diretamente proporcional à intensidade da memória e o grau de velocidade é diretamente proporcional à intensidade do esquecimento." 

O que mais me cativou desse livro foi realmente sta reflexão que circula a história, como a velocidade nos faz aproveitar cada vez menos nosso tempo e por consequência nossa própria vida e nos convida a refletir sobre o que estamos fazendo a respeito disso. A indicação de um amigo caiu como uma luva para mim que estava passando por um momento onde não encontrava tempo para nada, as vezes é muito melhor amar a lentidão do que esta modernidade que nos priva de admirar a beleza que a vida é. Obrigada Milan Kundera por me proporcionar isto, está aí um autor contemporâneo que tenho uma grande afeição. 

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros. 



quarta-feira, 15 de maio de 2019

Eu quero Traça(r) meu futuro com liberdade e educaçao!



Não vim falar de livros, mas vim falar de educação. Deixo meu posto para tomar meu posto como estudante de licenciatura em letras. É preciso falar, não posso me calar mais, na verdade nenhum de nós podemos nos calar mais, pois ainda temos voz e precisamos lutar para continuar tendo, os tempos estão difíceis demais.

Nas circunstancias que meu país está, com um presidente nitidamente despreparado e com um ministro da educação que é a favor do desmonte da educação é impossível não falar. Me sinto angustiada, me sinto triste e pouco venho lendo, uma vez que percebo a quão privilegiada eu sou! Sou estudante de uma universidade pública, a mesma no qual muitos estudantes arduamente estudam para conseguir uma vaga e eu consegui após tanta luta, para chegar um bando de loucos e dizer o que nós fazemos por aqui é balbúrdia, que somos “idiotas úteis” e “massa de manobra”, que temos que aceitar o corte de 30% da verba com o risco de termos nossas atividades paradas devido à falta de custos. É revoltante!

Tem horas que penso em pegar algo e ler pela diversão que sempre fiz, mas quando começo a ler começo a pensar, existe ainda tantas pessoas que não possuem a mesma oportunidade do que eu, que tem acesso a literatura, que aos poucos criou senso crítico e possui opinião própria a decidir em qual o melhor lado para se posicionar e ter embasamento para defender seu ponto de vista. A cultura ainda no Brasil é muito excludente e é nítido que existe um projeto para deixa-la ainda mais distante do povo. Não podemos deixar.

Faço pesquisa na área de ensino de língua estrangeira e vi nos olhos de meus alunos o entusiasmo ao trazer um material completamente novo e fora do convencional no qual eles estão acostumados, a nossa educação ainda é muito falha e em todas as aulas temos noção do quão problemático isso é. Por isso procurei estudar isso, por isso sempre tive em minha mente trazer ao meus alunos novos incentivos tanto na literatura quanto em qualquer outro assunto, esta missão parece que se tornou cada vez mais importante nessas circunstancias.

No momento que escolhi ser professora, assumi o compromisso de sempre trazer conhecimento para meus alunos, nunca a palavra doutrinação pela minha mente, na verdade ela apenas passa na mente daqueles que realmente querem doutrinar, na minha mente sempre veio a palavra “diversidade”, oferecer os melhores campos férteis de conhecimento, instigar a discussão e ampliar os horizontes para que assim possam caminhar com suas próprias opiniões.

Eu quero ser Traça, estar junto dos livros, da educação, da cultura, da diversidade e da liberdade. Eu quero ser traço de um desenvolvimento onde ocorra igualdade, que os direitos de todos possam ser respeitados, que o amor se sobreponha ao ódio e a educação seja vista como prioridade e não como um perigo. Eu quero traçar um futuro com êxito, graduar—me com uma profissão honrada não só por mim, mas por todos e acima de tudo, ajudar a traçar novos futuros, novos caminhos onde turbulências como essa nunca mais se repitam!

Com carinho e muita luta, Malu, a Traça dos Livros.