quarta-feira, 30 de maio de 2018

Análise: A Letra Escarlate



(Se não tiver livro e cappuccino juntos, não é Traça kkk) 


Minha ausência enfim acabou. E a mesma é justificada com esta leitura muito complexa (em vários sentidos), mas que se fez muito essencial. Ando particularmente gostando muito do que estou lendo ultimamente e percebo agora certos traços de uma estudante de letras em minhas leituras, lembro-me de ter ouvido na matéria de teoria do texto narrativo que uma leitura de um romance nunca mais seria igual no curso e com A Letra Escarlate tive essa comprovação.

Então, como já dito anteriormente, ao ler este livro, atentei-me na análise formal. Uma vez que o romance possui uma estética esplendida! Chegando até ser meio difícil escolher por onde começar. 

Primeiramente, o livro é escrito com uma certa prosa poética, então conseguimos reparar em um certo ritmo e lirismo nos diálogos dos personagens e também na fala do narrador. Agora o narrador... o narrador é um elemento sensacional em toda a história. O narrador é descritivo, unido com a intenção de prosa poética, temos o uso de metáforas e outras figuras de linguagem. Além disso, o narrador mostra todo seu conhecimento acerca de cada personagem, traçando seus psicológicos com um caráter muito minucioso. O trabalho do autor foi definitivamente uma obra prima.

Todavia, não posso dizer que foi uma leitura fácil. Pelo contrário, ela foi muito exaustiva, os longos períodos e descrições cheias de metáforas e análises complicadas fazia a leitura ser demorada e maçante, havia momentos que o uso da linguagem figurada mascarava os acontecimentos e eu tinha que retornar em trechos e me situar. Foi trabalhoso, mas não deixou de ser incrível.

Agora, vamos falar da história. Pois uma história dessas merece muitas palavras!

Primeiro começamos com um prefácio do próprio autor Nathaniel Hawthorne, neste, não se sabe a veracidade dos fatos, mas ele nos conta sua vida e seu trabalho em uma alfandega. Ao expressar os fatos, mostra-se também sua motivação para escrever a história, uma vez que descobriu um objeto que lhe intrigou muito e a partir daquele momento, começou seu trabalho criativo. É muito interessante obter este tipo de ponto de vista na história, tornou-se instigante para começar a ler.

"Era uma letra A maiúscula. (...) A letra me interessava estranhamente. Certamente havia nela algum sentido profundo, digno de interpretação e que, por assim dizer, emanava do símbolo místico, comunicando-se sutilmente aos meus sentidos, mas evadindo-se a uma análise mental." (Pág. 44)

Então começamos a trama. Somos levados a Nova Inglaterra do século XVII onde uma jovem, Hester Prynne, acaba de ser condenada a viver durante todos os dias de sua vida carregando um adorno em sua vestimenta como forma de humilhação pública diante ao pecado que cometeu. Por ser uma mulher adultera, Hester dali em diante devia carregar uma letra A na cor vermelha como símbolo do seu crime e viver o resto de sua vida como um exemplo a não ser seguido para a sociedade daquela época, lembrando que se trata de uma cidade com valores puritanos. E assim seguimos o romance, vendo a vida por sete anos desta mulher e suas superações na sociedade.

Hester Prynne é uma protagonista heroica um tanto quanto inovadora para o contexto que a obra se insere. Temos a imagem de uma mulher culta e a frente do seu tempo, e mesmo com as tribulações que a fizeram ser condenada não foram o suficiente para seu caráter ser abalado. Pelo contrário, ela continuou firme aos seus princípios e ao final da trama temos sua redenção, claro, um resultado de uma trajetória sofrida cujo Hester trilhou com muita dignidade e força, independente das palavras e criticas alheias, Hester mostrou-se além da compreensão da sua época.

“Ela assegurava-lhes, também, a sua firme convicção de que, em algum período mais promissor, quando o mundo houvesse ficado maduro o suficiente para isso, no tempo do próprio Céu, uma nova verdade seria relevada, a fim de estabelecer toda a relação entre homem e mulher sobre um terreno mais firme e de felicidade mútua. ” (Pág. 270)

Temos o aspecto moralizante nesta história, mas também ele se liga a inúmeras críticas que o autor tece em relação aos valores puritanos que se instalou nos Estados Unidos, tais valores que também são criticados em O Conto da Aia, acredito que exista certo diálogo das obras uma vez que mostram como esses valores interferem numa sociedade e também como alienam, outro ponto seria o retrato dos reflexos desses valores nas pessoas e como elas faziam para não sucumbir ao desalento. Enfim, mais uma vez recordo que esta obra é genial.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

Obs: Assistam o filme "A Mentira", foi ele que me motivou a ler a história. 

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