segunda-feira, 23 de abril de 2018

Análise: O Conto da Aia (under his Eye)


foto tirada do meu Instagram

“(...) pensamos que faríamos melhor.
Melhor? Digo, em voz baixa, apagada. Como ele pode pensar que isso é melhor?
Melhor não significa melhor para todo mundo, diz ele. Sempre significa pior, para alguns. ” (Pág. 251)

E enfim o dia chegou e eu li O Conto da Aia! Depois de descobrir a incrível trajetória literária de Margaret Atwood, chegou o momento de contar minha experiência com o seu livro (acredito eu) mais conhecido.

Primeiramente, devo dizer que minhas expectativas estavam muito altas quando comecei a leitura, uma vez que os dois livros anteriormente eram incríveis e eu estava fascinada com a escrita da autora, a série (cujo estou assistindo) influenciou muito, uma vez que se tornou muito aclamada e de fato, é fantástica e foi muito essencial para entender partes do livro cujo ficaram vagas.

É retratado na narrativa de O Conto da Aia o universo da “distopia”, mas o que é isso? Distopia seria algo oposto da utopia, algo reverso e nesse caso temos relatado uma revolução de uma ditadura teocrática. A Constituição Americana se torna suspensa e o Estado de Gilead é instaurado no país, uma espécie de ditadura cujo os valores religiosos estavam estreitamente atrelados as leis, de forma completamente radical. Os direitos foram anulados e somos apresentados a um universo sem esperança e com muito terror, e é assim que conhecemos a história de Offred.

Primeiramente este não é seu nome verdadeiro (ele não é divulgado, por um momento acreditamos que seu nome é June, mas não é especificamente falado), Offred quer dizer “Of Fred” o nome de seu Comandante, uma vez que ela é uma Aia. Devido ao uso de elementos tóxicos na natureza entre outros surtos de doenças, poucas mulheres continuaram férteis neste futuro distópico, aquelas que continuaram se tornaram Aias, uma espécie de barriga de aluguel para mulheres da alta classe de Gilead. As mesmas eram tratadas como objetos pertencentes a família, perdendo sua liberdade para ceder ao bem do Estado segundo a Bíblia (Genesis, 30, 1-3).

Entramos na mente da narradora, no caso a própria Offred e temos acesso a não apenas os detalhes das mudanças que ocorreram nessa revolução, mas também os reflexos dela nas pessoas que viviam com Offred e com ela mesma, temos também acesso a suas memórias antes de tudo e as suas lamentações devido a sua condição atual, o serviço de escravidão era incomodo, todavia não havia o que ser feito, tudo estava tomado. Ela também conta seu dia-a-dia com as pessoas que viviam na mesma casa que ela cujo tinha uma relação diferente om cada um (deixo um adendo para a esposa do Comandante, Serena Joy, foi um dos personagens que mais me instigou e para mim o mais bem construído).

Ao decorrer da história, nós sentimos junto com Offred as condições de um sistema autoritário com bases radicais, Atwood tece críticas precisas (como sempre), mas dessa vez não apenas ao feminino, mas também ao social, como palavras como as palavras da Bíblia podem muito bem serem distorcidas em prol do controle, indo ao aposto do que se pregam e como partidos autoritários conseguem espaços na sociedade rapidamente. O que mais me instiga é que Margaret Atwood publicou este livro em 1985 e como o debate se faz preciso na conjectura atual.

Todavia, é preciso dizer que não foi minha obra favorita lida dela e muitos fatores deixaram a desejar. A construção do romance é cheia de digressões que me deixaram confusa, além de muitos momentos não serem tão bem definidos ou explicados, mas é entendível pois tratávamos apenas das memórias de Offred. Claro, temos que destacar o final e o epílogo, não sabemos o futuro dos personagens, na verdade temos apenas hipóteses a partir do epílogo cujo descobrimos que pode haver ou não autenticidade nos relatos de Offred, nos dando ainda mais discussões para serem pensadas. O final vale a história toda.

Em resumo, leia! Reflita! É preciso! Margaret Atwood se tornou uma autora muito especial para mim e quero procurar saber mais sobre ela, é fantástico o que ela consegue exprimir em suas histórias, e já deixo o convite para assistirem a série The Handmaid’s Tale cujo faz jus a essa obra!

Blessed be the fruit.

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.

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