sábado, 28 de setembro de 2019

Carolina e Maria de Jesus




Para voltar a escrever, eu tinha que ter um bom motivo e nesse mundo tão complicado, me parecia difícil achar esta faísca que me fizesse voltar a ser a mesma Traça, cheia de alegria e histórias para contar. Todavia, este dia chegou uma tenho um motivo muito especial para compartilhar com vocês, este motivo é uma história de duas mulheres que de certa forma, estão unidas na minha vida, e engraçado ou não, ambas possuem os mesmos nomes, a primeira é Carolina Maria de Jesus, a escritora e Maria de Jesus Ribeiro da Silva, minha avó.
Ao contrário de mim, Traça dos Livros, minha vó não lê muito, é um hobby muito quieto para ela, minha vó é muito mais aquela pessoa que não para, que faz muitas coisas em casa e sempre com o rádio ligado para se divertir, um tipo de mulher que um dia está na cozinha e no outro está em Paris. Minha vó teve uma vida difícil e cheia de histórias de superação (que na verdade dariam um bom livro), e os livros não estiveram neste plano principal, mas, com muito orgulho, minha vó fala com todas as letras que o livro que ela conseguiu completar uma leitura foi “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus.
Minha vó ganhou este livro na década de 1970, minha vó conhecia a história e ficou interessada, um dia conversando com um amigo de meu avô sobre o livro, o mesmo disse ter o livro e lhe deu de presente seu exemplar e foi então que a história das duas se uniram para sempre. Que maravilha ter orgulho de ler um livro desses!
Porém, onde eu entro nessa história? Bem, quando eu passei no curso de letras, na Universidade Federal de São Carlos, acabei descobrindo que a mesma autora era homenageada pelo Centro Acadêmico da instituição e comentando com a minha avó sobre isso, foi quando ela me deu seu livro e a história das duas chegaram até mim. Aqui está comigo, um dos primeiros pertences que levei para minha nova casa, guardado como tesouro de alto valor, um exemplar da primeira edição da década de 1960, ano da primeira publicação do “Quarto de Despejo”.
Hoje, estou lendo o livro para uma matéria da graduação, mas o exemplar ainda permanece comigo, guardado com todo o cuidado existente neste mundo. Não é apenas um livro maravilhoso, mas é ainda mais maravilhoso esse sentimento de ter uma história por trás de outra história em um livro que tem muito mais anos do que eu tenho de vida, ele pode estar um pouco deteriorado pelo tempo, por isso não gosto muito de manuseá-lo toda hora e ainda não tenho coragem de levar para alguém restaurar, mas as histórias estão ali, estão em mim, em minha vó, em todas as pessoas que perpetuam o nome de Carolina Maria de Jesus ao mundo, pois precisamos que cada vez mais esses livros cheguem nas pessoas e as toquem com sua delicadeza.
     E são nesses momentos em que penso.... Que dádiva poder ter um livro consigo, com ele, a história nunca acaba, ela se transforma.
Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.