domingo, 30 de junho de 2019

Análise: A Lentidão



Eu não sei como começar, pois me senti muito envergonhada por ter sumido por todo esse tempo, a resposta deste intervalo é simples: faculdade! Esse semestre muitas coisas aconteceram, muitos ciclos foram fechados, muitas leituras foram obrigatórias e a Traça - infelizmente - foi deixada de lado, mas nunca esquecida! Em meio a rotina caótica ainda planejava escrever e hoje sinto um alívio por poder compartilhar algumas palavras com todos vocês.

Muito do meu tempo foi tomado, mas a alma de uma Traça não se deixar levar tão facilmente e consegui ler um romance diferente das minhas leituras obrigatórias e posso dizer que foi uma válvula de escape muito precisa naquele momento, não via a hora de compartilhar com vocês, e em meio da minha lentidão venho compartilhar com todos a minha experiência com "A Lentidão" de Milan Kundera, irônico não?

Eu já havia lido livros do Milan Kundera anteriormente, vocês sabem que "A insustentável leveza do ser" é o livro da minha vida e nunca me canso de falar sobre isso, minha experiência com Kundera sempre foi bem satisfatória e gosto bastante do estilo em que ele se debruça ao escrever, os capítulos breves, as questões inerentes ao ser humano, os relacionamentos não tão convencionais e os encontros e desencontros que seus personagens realizam ao decorrer da história. "A Lentidão" nos proporciona tudo isso em um tamanho reduzido em páginas, mas em grandiosidade em conteúdo.

Primeiramente, temos o próprio autor narrando uma viagem com sua esposa até um castelo na França que supostamente foi o castelo de Madame de Tourvel, a personagem conhecida do romance de Chordelos de Laclos, "As Relações Perigosas" (vocês sabem do sentimento bittersweet que possuo com esta história) , então já temos uma intertextualidade muito enriquecida logo no começo, fazendo com que o espaço seja um principal elo em todas as histórias que vão passar por lá. A partir desta intertextualidade, o autor começa a refletir sobre como o tempo era muito menos caótico nas épocas de Madame de Tourvel naquele castelo do que são hoje. Acredito que esta é a principal reflexão da história, a reflexão da lentidão do tempo ao decorrer das épocas e em como nosso cotidiano é tão acelerado devido a modernidade que perdemos a essência de admirar e perceber o mundo com mais atenção e ternura, as relações eram diferentes e o tempo era muito mais bem aproveitado. 

É necessário falar que outras histórias se cruzam naquele castelo, outros personagens nos são apresentados e com eles suas questões pessoais, mas a velocidade ainda é uma reflexão de todos durante sua estádia, logo, vemos que o autor consegue colocar uma temática muito bem estruturada e que vemos sua concretização a partir de uma reflexão chamada pelo autor como "uma equação bem conhecida `do manual da matemática existencial" 

"O grau de lentidão é diretamente proporcional à intensidade da memória e o grau de velocidade é diretamente proporcional à intensidade do esquecimento." 

O que mais me cativou desse livro foi realmente sta reflexão que circula a história, como a velocidade nos faz aproveitar cada vez menos nosso tempo e por consequência nossa própria vida e nos convida a refletir sobre o que estamos fazendo a respeito disso. A indicação de um amigo caiu como uma luva para mim que estava passando por um momento onde não encontrava tempo para nada, as vezes é muito melhor amar a lentidão do que esta modernidade que nos priva de admirar a beleza que a vida é. Obrigada Milan Kundera por me proporcionar isto, está aí um autor contemporâneo que tenho uma grande afeição. 

Com carinho, Malu, a Traça dos Livros.